“Este romance original oferece tudo o que a insubstituĂvel fotografia de um álbum familiar revela, com a exceção de que, neste caso, as palavras valem mais do que mil imagens”, disse o celebrado autor americano Philip Roth sobre Noites insones. Publicado originalmente em 1979, quando Elizabeth Hardwick tinha 63 anos e uma carreira consolidada como ensaĂsta de prestĂgio, o romance nĂŁo Ă© somente considerado sua obra-prima, mas uma das grandes contribuições para a literatura estadunidense dos Ăşltimos 50 anos, uma meditação sensĂvel sobre a prĂłpria memĂłria, alĂ©m de precursor da autoficção. Nas lembranças que povoam as noites insones da narradora — uma idosa chamada Elizabeth, internada em uma clĂnica geriátrica —, figuras reais, como a cantora Billie Holiday, dividem espaço com fictĂcias, as quais por vezes se misturam Ă vida de Hardwick, como o personagem sem nome que alude a Robert Lowell, poeta com quem viveu um tumultuado casamento e que morreu de infarto em 1977, no banco traseiro de um táxi, quando estava prestes a se reconciliar com a esposa. O romance inclui vislumbres das corridas de cavalo no Kentucky, dos clubes de jazz de Nova York, do bairro mais elegante de Boston, Beacon Hill, dos canais de AmsterdĂŁ, alĂ©m de encontros com comunistas, poetas e a intelligentsia literária nova-iorquina. Ainda lança luz sobre questões que já afligiam Hardwick na Ă©poca, como racismo, sexismo e pobreza. Apesar da tristeza incrustada nas memĂłrias, a obra se dá ao luxo de acreditar que no futuro tudo será diferente. Como diria um de seus personagens: “Agora, sim, serei feliz”. Hardwick dedicou o romance Ă sua filha, Harriet. Conforme relatado pela escritora Sarah Nicole Prickett, “Hardwick começou o romance apĂłs se divorciar do marido e o terminou apĂłs sua morte em um táxi do aeroporto para o apartamento dela”. CrĂtica literária e romancista, Elizabeth Hardwick nasceu em Lexington, em 1916, e se graduou na Universidade de Kentucky. Em seguida, entrou no programa de doutoramento da Universidade Columbia e lá permaneceu atĂ© 1941, quando decidiu se concentrar na escrita. Colaboradora da Partisan Review, da New Yorker e da Harper’s e cofundadora da New York Review of Books, Hardwick proferiu seminários de escrita na Barnard College e na Escola de Artes da Universidade Columbia, onde foi professora da escritora Sigrid Nunez. Foi casada com Robert Lowell, poeta vencedor do Pulitzer, com quem teve uma filha. Faleceu em Manhattan em 2007, aos 91 anos.