O primeiro romance publicado no Brasil do escritor e crĂtico cultural espanhol Jorge CarriĂłn traz uma narrativa que põe em discussĂŁo temas Ă©ticos, relacionados ao rápido avanço das inteligĂŞncias artificiais no mundo. A histĂłria se passa no ano 2100. O Museu do SĂ©culo XXI abre suas portas para revelar uma jornada fascinante pela histĂłria da humanidade e sua relação com a tecnologia. A narradora, uma inteligĂŞncia artificial, nos guia pela exposição permanente, tecendo uma reflexĂŁo crĂtica e poĂ©tica sobre a teia que conecta a humanidade Ă s ferramentas que criamos. Mais do que uma exposição, o museu se transforma em um espaço para grandes debates contemporâneos, abordando temas como identidade, Ă©tica, progresso e o futuro da nossa espĂ©cie. Nas franjas do texto, algumas questões intrigantes se revelam ao leitor: como será a relação entre humanos e máquinas no futuro? Quais sĂŁo os limites dessa relação? E o amalgamento entre o campo virtual e o real, atĂ© onde nos levará? O plano virtual, algum dia, se sobreporá ao que chamamos de realidade? Haverá realidade no futuro, ou apenas simulacro? “Os começos nĂŁo existem, mas as tramas precisam muito deles. Tudo sempre acontece ao mesmo tempo, todos os fios sĂŁo simultâneos e se entrelaçam no caos, por isso os museus escolheram alguns fios e com eles teceram uma trama ininteligĂvel, bem tramada”, diz um dos trechos do romance. Em meio Ă s reflexões propostas pela narrativa, o amor tambĂ©m surge como tema central. Karla Spinoza, uma das poucas personagens humanas remanescentes, apaixona-se por Maxi, um assistente de voz sucessor de Siri. AtravĂ©s dessa relação, o autor explora a ideia do humano como tecnohumano desde sua origem, reconhecendo sua mutabilidade e a essĂŞncia transformadora da humanidade. Cada capĂtulo do livro Ă© precedido de uma pequena lista de objetos do museu — reunindo itens reais e inventados, desde o PinĂłquio da Disney e uma cruz usada na primeira missa de BrasĂlia atĂ© um carro carbonizado e obras futuras de arte-ativismo. A heterogeneidade arbitrária da coleção Ă© um dos aspectos mais curiosos do livro, justapondo detalhes do passado com detritos da sua convoluta trama. CarriĂłn Ă© um destacado crĂtico literário em seu paĂs. Ele estudou na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, onde atualmente leciona literatura e escrita criativa. Suas obras incluem ensaios, novelas, romances e relatos de viagem, e seus artigos foram publicados na National Geographic e na revista Lonely Planet. Em 2013, seu livro Bookshops foi finalista do PrĂŞmio Anagrama de Ensayo.