“Iniciarei sem medo,/ com a cabeça erguida/ falarei em primeira pessoa,/ direi: eu! Eu digo.” Em trecho do poema que dá nome ao livro, Carlos Cardoso parece tentar romper com a abordagem acadĂŞmica que busca separar autor e eu lĂrico. Em versos permeados pelo sentimento que batizou a obra, o carioca deixa suas entranhas Ă vista, abordando esse mal-estar bastante presente no sĂ©culo 21 de maneira pessoal. “Hoje, o mundo vivencia uma melancolia generalizada. O estado melancĂłlico está instalado no mundo e Ă© necessário falar sobre esse sentimento, entrar para saber como sair dele”, explica em entrevista Ă Tribuna de Minas. A manobra ousada, no entanto, cobra seu preço: “Releio meus versos/ e me aterrorizo com o que faço”. Apesar do Ă´nus dessa expressĂŁo sincera, o conjunto — que tambĂ©m traz a pedra como constância temática e homenageia nomes como Caio Fernando Abreu e Vinicius de Moraes — recompensou o esforço ao vencer o prĂŞmio de poesia da Associação Paulista de CrĂticos de Arte (APCA) em 2019.