Lançada originalmente em 2004, esta espécie de continuação do romance autobiográfico Chove sobre minha infância (2000) traz crônicas que falam sobre o vasto universo literário — bibliotecas, leituras, obras herdadas e títulos tanto reais quanto imaginários. No primeiro texto desta segunda edição da obra, revista e ampliada, o escritor paranaense deixa claro qual foi o clima de sua infância: “Livro não era artigo muito comum na Peabiru dos anos 1970 e muito menos em minha família, com forte tendência para a vida prática. Analfabeto, meu pai não poderia ter me legado nenhum livro, e morreu antes de eu entrar na escola”. Se tudo apontava para uma vida distante da ficção, Sanches Neto driblou essa condição para estabelecer uma relação quase obsessiva com a literatura. Para os marinheiros de primeira viagem, que não tiveram contato com a edição anterior, o autor deixa um recado no prefácio: “Vá me desculpando o leitor se, em um canto ou outro, ainda persiste algum cheiro de mofo”.