O H do título se refere a Homero. Ismail Kadaré tece com maestria uma trama alegórica. Dois lingüistas irlandeses partem para a Albânia da década de 30 armados de um novíssimo aparelho, o magnetofônio, ancestral pesadão dos nossos gravadores. Estão dispostos a resolver o enigma acerca da elaboração dos poemas homéricos estudando in loco a epopéia albanesa tradicional, que ainda subsistia nas montanhas do interior. As autoridades do reino logo passam da suspeita à certeza de que os dois estrangeiros eram espiões e eles são vigiados dia e noite. Enquanto a arte dos rapsodos albaneses desaparece rapidamente, a espionagem floresce. Há uma especialização entre os informantes, um é o olho, outro é só ouvidos. O principal “artista” do regime é um informante cujos relatórios são invejados pelo seu superior como exemplos de estilo. Há portanto a crítica ao regime autoritário e a seus absurdos, que Kadaré explora com um humor impiedoso. O livro não se esgota aí. Há um belo debate sobre o oral e o escrito e acerca da relação entre arte e realidade. Aqui o verdadeiro enigma é a própria literatura.