Na primeira narrativa de fĂ´lego do curitibano, bastante marcada pela oralidade, uma voz sem nome ou idade — sabe-se que Ă© o caçula de uma famĂlia em ruĂnas — Ă© quem conta a histĂłria. Os cortes sĂŁo rápidos, a exemplo do que o autor realizou em sua trilogia de contos (Pancrácio, O esculpidor de nuvens e O cĂŁo mentecapto), e nĂŁo faltam tragĂ©dias. Há o irmĂŁo do crime, o outro queridinho, o pai bĂŞbado e uma mĂŁe submissa. O protagonismo acaba ficando para uma espĂ©cie de desespero latente do cotidiano, uma vez que as figuras do romance estĂŁo ocupadas demais com a vida como ela Ă©. De acordo com a atriz e dramaturga Dione Carlo, destaque para o ritmo do texto que, “como toda boa literatura, consegue sustentar-se na voz humana, escapa do papel para ser carne”. “Linhares nos coloca para frente, nos convida a pensar a literatura como mĂşsica, ritmo, pintura, paisagem”, prossegue. “Há uma beleza que perfura os olhos para que vejamos melhor com nossa sensibilidade ativada.”