Professor da Universidade Federal do Paraná, tradutor e editor, Rodrigo T. Gonçalves faz sua segunda incursão pela poesia neste Canto enforcado em vento. Como o tom do título sugere, os versos flertam com reflexões imagéticas — e parecem embalados por uma constante: a ideia do corte. Um corte que não se pretende metafísico, mas — com linguagem simples, por mais que metafórica — busca uma incisão sobre o real. Apropria-se da potência imanente da realidade para, por meio da materialidade da palavra, criar uma voz (ou vozes) que “propõe agudez”, mesmo que os poemas concordem em “não saber como findar”. A dualidade e as incertezas, afinal, são combustível para o material lírico, sem que se deixe de lado um manejo bem pensado da gramática e suas possibilidades — as quebras bruscas, o uso peculiar dos sinais de pontuação. Para a poeta e artista plástica Jussara Salazar, as escolhas formais do autor se combinam para “propor a implosão da infinitude”. O resultado pode ser visto como um livro “pleno e saciado/ já pronto em ser o templo/ do que ele mesmo mal consegue desvelar”.