Ivan BĂşnin (1870-1953) foi o primeiro escritor russo a ganhar o prĂŞmio Nobel de Literatura, em 1933. Aos 19 anos, começou a publicar poemas e contos, enquanto se iniciava na carreira de jornalista. Nos anos 1890, profundamente atraĂdo pelas ideias de Lev TolstĂłi, conheceu-o pessoalmente. O mesmo aconteceria com Anton Tchekhov, de quem se tornaria amigo. Embora BĂşnin tenha se aproximado da escola simbolista e publicado poemas influenciados por essa estĂ©tica, sua obra remete estilisticamente ao classicismo russo do sĂ©culo 19. Em 1920, discordando dos rumos da Revolução de 1917, BĂşnin fixou residĂŞncia em Paris, tornando-se uma das principais vozes da comunidade de russos emigrados. A maioria dos contos reunidos pelo prĂłprio autor neste livro foi escrita no sul da França entre 1937 e 1945. Segundo ele, “o livro tem o nome retirado do primeiro conto, Alamedas escuras, e todos os outros contos tratam tambĂ©m das escuras e, na maioria das vezes, muito cruĂ©is alamedas do amor…” Os momentos mais felizes e cruciais da vida dos personagens de Alamedas escuras estĂŁo associados ao amor que, na maioria das vezes, determina o futuro deles. No entanto, essa felicidade Ă© passageira porque o amor carrega uma premonição de um inevitável desfecho fatal, criando uma grande tensĂŁo nas narrativas do livro. Na descrição de BĂşnin, o amor Ă© um relâmpago curto e deslumbrante que ilumina a vida dos personagens e logo em seguida os faz olhar dentro do abismo perigoso que inevitavelmente provoca o final trágico. Na visĂŁo de mundo do autor, sempre há a proximidade entre o amor e a morte, refletindo a natureza catastrĂłfica da existĂŞncia humana. Alamedas escuras Ă© tambĂ©m o livro no qual BĂşnin reconstrĂłi as memĂłrias da “sua” RĂşssia, aquela querida “velha RĂşssia”, que acabou para ele com a vitĂłria dos bolcheviques. Com algumas raras exceções, no livro predominam os espaços e cenários russos. A memĂłria do escritor está de tal forma aguçada que ele consegue recriar impressionantes quadros vivos e fortes da natureza, que fazem parte tĂŁo importante da “geografia da alma russa”. A tradução do livro Ă© assinada por Irineu Franco PerpĂ©tuo e o volume ainda traz 38 ilustrações da artista visual russa Svetlana FilĂppova, uma das maiores animadoras e ilustradoras do cenário contemporâneo russo.