Em A posição das colheres, Deborah Levy retoma o gesto que marca sua escrita: transformar o cotidiano em pensamento. Três vezes finalista do Booker Prize, a autora revisita cenas íntimas — a cozinha, o fim de um casamento, o caminhar por cidades estrangeiras — para investigar como o trivial pode iluminar o que somos. O título evoca essa atenção aguçada: observar a disposição dos objetos é também observar a própria vida. Entre memórias, leituras e viagens, Levy constrói uma reflexão sobre o ato de escrever como forma de resistência e de reinvenção. Sua prosa, ao mesmo tempo delicada e incisiva, revela que a experiência doméstica pode ser um laboratório filosófico. O livro mistura ensaio, autobiografia e meditação, criando uma narrativa fragmentada, mas profundamente coesa. A posição das colheres reafirma a força de uma autora que pensa com a escrita e que encontra, nos gestos mínimos, uma ética da atenção. É leitura que convida a olhar o que quase passa despercebido — e a transformar esse olhar em modo de vida.