Primeiro romance de Paulo Rodrigues, publicado originalmente em 2001 e ganhador do prêmio APCA de autor revelação, o livro ficou engavetado por muitos anos até ser acolhido pela extinta Cosac Naify — e relançado, em 2019, pela Grua. No final da década de 1970, porém, o escritor paulistano já tinha a admiração de Raduan Nassar. “Conheci originais do Paulo em 1977 e 78. Eram textos em que ele manejava a língua de modo invejável”, disse o autor de Lavoura arcaica (1975) em depoimento à Folha de S. Paulo, na ocasião da primeira publicação de À margem da linha. Na obra, dois irmãos deixam a casa da mãe e partem em busca do pai, caminhando à margem de um trilho de trem por bairros suburbanos. Essa busca — frustrada — por uma figura essencial abre espaço para reflexões existencialistas do menino mais novo, responsável por registrar a jornada do par solitário. Tendo somente a companhia de seu Mano, o jovem narrador parece tentar compreender, através dessa travessia, como os desvios podem ser tão importantes para a vida quanto um caminho certeiro.