Em seu primeiro livro de ficção, a professora e historiadora Denise Sant’Anna parte do fato de que o pai da narradora, idoso e exausto de cuidar da esposa com Alzheimer, sofre um AVC hemorrágico. O trágico episódio abre uma janela para a memória afetiva, descortinando uma teia de relações familiares e sociais acerca da consciência da morte — embora nem tudo seja assombrado pela presença dela. A descoberta do sexo, o nascimento de amizades e a relação madura que constituÃmos com nossos pais quando envelhecemos também aparecem no livro. A narradora parece acreditar que por detrás de nossa fragilidade há uma potência quase infinita: a capacidade que temos de contar a nossa própria história e a daqueles que nos deixaram. Outro ponto alto do romance é a linguagem empreendida pela autora: uma mistura de relato pessoal, memorialismo e ficção. O livro foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura em 2023.