🔓 Volume de cartas revela frustração de Mário de Andrade com cargo público

Mário de Andrade por ele mesmo traz as cartas que o escritor trocou com o amigo e intelectual Paulo Duarte, quando foi funcionário da prefeitura de SP
Retrato de Mário de Andrade pintado por Tarsila do Amaral
26/01/2022

As cartas que Mário de Andrade enviou durante a vida a amigos e intelectuais têm sido editadas como parte da obra literária do escritor paulista. Às vésperas do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, chega ao leitor brasileiro mais uma coletânea de missivas do autor de Macunaíma.

Mário de Andrade por ele mesmo traz as cartas que o escritor trocou com o amigo e intelectual Paulo Duarte, quando Mário foi diretor do Departamento de Cultura e Recreação da prefeitura de São Paulo, entre 1935 e 1938.

As cartas a Duarte, seu companheiro nessa aventura política, são candentes, confessionais e muito esclarecedoras das condições em que se implantou uma improvável intervenção do poder político na máquina pública para promover o acesso à cultura de indivíduos desprovidos de lazer numa cidade que cultua o trabalho.

Paulo Duarte concebeu o Departamento de Cultura e teve o mérito adicional de convocar Mário de Andrade, Sérgio Milliet e Rubens Borba de Moraes para conduzi-lo. A si reservou o papel de tutor do projeto, instalado na chefia de gabinete do prefeito Fábio Prado. Advogado, jornalista e intelectual destacado, ele participou ativamente da criação do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, além de ter escrito obras como Sob as arcadas (1927).

Foram três anos palpitantes de muita dedicação, descoberta e realização. No entanto, a experiência não vingou. Foi esterilizada pela ditadura do Estado Novo. Mário nas cartas irá se lamentar de não ter sido capaz de institucionalizar o Departamento de Cultura.

Teria isso sido possível num país que nunca concluiu a inserção da população numa sociedade de direitos básicos? O escritor viveu o drama do Departamento de Cultura como uma derrota pessoal. E chegou a declarar: “O Departamento é o meu túmulo”.

Mário de Andrade por ele mesmo
Mário de Andrade e Paulo Duarte
Todavia
576 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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