Para comemorar os 50 anos de vida literária de Antônio Torres, a Record publica Trilogia Brasil, que reúne os romances Essa terra, O cachorro e o lobo e Pelo fundo da agulha.
Escritos com décadas de distância, os livros têm grande reconhecimento da crítica e trazem em sua temática o sertão, as relações familiares, a imigração e o retorno às origens de personagens marcantes.
A reunião em um único volume, 19º livro do autor, integrante da Academia Brasileira de Letras, tem texto de orelha de outro imortal, João Almino. No ano passado, Antônio Torres lançou o romance Querida cidade.
Os livros
Essa terra (1976) é um dos romances mais marcantes da literatura brasileira contemporânea. A história se inicia com o relato da lembrança de Totonhim sobre o retorno do irmão ao Junco, uma pequena cidade do interior da Bahia onde moravam. O irmão havia fugido para São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Depois muitos anos de fracasso na cidade grande, decide voltar sua cidade de origem, no interior do sertão nordestino. Lá chegando, desilude-se com tudo que encontra e reencontra e acaba se enforcando no gancho de uma rede. O suicídio gera impacto em Totonhim e em toda a sua família. O livro é sucesso no exterior, com traduções na França, Alemanha, Itália, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, Israel e Cuba.
Vinte anos após ter partido para São Paulo, Totonhim, em O cachorro e o lobo (1997), refaz a viagem em sentido inverso: regressa ao Junco, numa visita relâmpago ao pai que acaba de completar 80 anos. É o mesmo pai que deixou vinte anos antes, mas mais sereno, talvez, e mais solitário.
Nas três etapas de um dia que segue o trajeto do sol – manhã, tarde, noite –, o narrador tenta recuperar a posse de um lugar onde estão suas raízes. Um lugar onde histórias se confundem, ritmadas por músicas e melodias antigas.
Cerca de uma década mais tarde, em Pelo fundo da agulha (2006), Totonhim está sozinho no mundo. Aposentou-se, separou-se da mulher e dos filhos, perdeu o melhor amigo e faz uma outra viagem de volta — totalmente interior. Embalado pela imagem da mãe velhinha, mas ainda com visão boa para enfiar a linha pelo fundo da agulha, sem usar óculos, ele repassa vários lances de sua vida, como se a olhasse por esse orifício.