Em novembro de 2015, o rompimento da barragem de FundĂŁo, em Mariana (MG), liberou 55 milhões de metros cĂşbicos de rejeitos de minĂ©rio de ferro no Rio Doce, afetando 38 municĂpios ao longo de 660 quilĂ´metros atĂ© o Oceano Atlântico. Entre as cidades atingidas estava Governador Valadares, com quase 280 mil habitantes, que enfrentou o colapso no abastecimento de água.
A experiĂŞncia vivida nesse perĂodo Ă© o ponto de partida de Doce amargo, obra em quadrinhos de JoĂŁo Marcos Mendonça, professor universitário e quadrinista que mora na cidade. Publicado pela Nemo, o livro chega Ă s livrarias em 2025, quando a tragĂ©dia completa uma dĂ©cada.
Misturando memória pessoal e relato coletivo, Mendonça reconstitui o primeiro ano após o desastre: a incerteza em torno da água potável, as longas filas por galões, os boatos que se espalhavam mais rápido que as informações oficiais, a sensação de abandono diante das promessas não cumpridas e os abusos de comerciantes que venderam água a preços inflacionados. Em contraponto, aparecem também os gestos de solidariedade entre vizinhos e familiares.
“Me interessou contar essa história sob a perspectiva humanizada, do ponto de vista ordinário. De pessoas que tiveram suas rotinas impactadas em situações absolutamente comuns, como tomar água ou um banho”, afirma o autor.
Com cores de Marianne Gusmão, que acentua visualmente a carga emocional da narrativa, Doce amargo combina denúncia e testemunho. No prefácio, o professor Hernani Santana destaca que a HQ “reconfigura a memória da tragédia e rompe com versões oficiais”.
O autor
Nascido em Ipatinga (MG), João Marcos Mendonça é mestre em Artes Visuais pela UFMG e professor da Univale. Autor de mais de 15 livros em quadrinhos para crianças, já recebeu prêmios como a Cátedra 10 UNESCO de Leitura (PUC-Rio) e o Troféu HQ Mix. Em 2024, foi artista convidado do Batman Day, da DC Comics, em comemoração aos 85 anos do personagem.