🔓 Tetralogia poética de Marcus Accioly ganha reedição

Publicados entre os anos de 1970 e 1990, títulos estavam esgotados há décadas; novas edições celebram os 80 anos de nascimento do poeta pernambucano
O poeta pernambucano Marcus Accioly, que tem quatro de seus livros publicados pela Cepe (Foto: Glória Dalla Nora)
05/06/2023

Um dos principais nomes da poesia pernambucana, Marcus Accioly (1943-2017) completaria 80 anos em 2023. Para comemorar a data, a Cepe reedita quatro importantes obras do autor, que estavam esgotadas no mercado. Apesar de publicados em momentos distintos, Sísifo (1976), Íxion (1978), Narciso (1984) e Érato (1990) são considerados uma tetralogia.

“O próprio Marcus já considerava em vida esses quatros livros como parte de um projeto maior, tendo como eixo o diálogo com a poesia clássica. São formalmente livros diferentes, mas que têm em comum esse fio condutor dentro de uma perspectiva de revisitação do mundo grego”, explica o editor Wellington de Melo. “Uma reconfiguração daquela poesia clássica utilizando elementos pós-modernos tão presentes na poética de Marcus Accioly.”

O projeto editorial da tetralogia, que contou com recursos do Funcultura e foi abraçado pela Cepe, partiu da iniciativa de Glória Dalla Nora. Guardiã da obra literária deixada pelo companheiro, ela tem concentrado esforços para reeditar títulos e publicar inéditos deixados pelo poeta. Wellington de Melo, então editor da Cepe, coordenou as edições, convidando o artista visual e ilustrador pernambucano Raoni Assis para assinar as capas.

Na tetralogia, o poeta revisita os mitos tendo como horizonte o homem contemporâneo. Lançado há 47 anos, Sísifo é um longo poema épico em dez cantos e quase 12 mil versos. É considerado um dos livros mais experimentais de Marcus Accioly. Ao ler os originais, Carlos Drummond de Andrade assegurou ser a obra uma “fonte inesgotável de leitura, surpresa e admiração”.

Considerada pelo autor como “mais que um poema dramático e menos que uma tragédia grega, (…) uma tragédia à grega”, Íxion sintetiza a dualidade entre o bem e o mal na infindável batalha interna que marca a existência. Reelabora a lenda do rei dos Lápitas, um dos maiores vilões da mitologia grega que, apaixonado pela filha do rei Dioneu (Dina), mente e mata para atingir seus propósitos.

“Dos três personagens — malditos e mitológicos sobre os quais escrevi —, este é o mais marginal”, disse certa vez o poeta sobre Narciso. É marginal porque convive com uma absoluta solidão, falando apenas consigo próprio. Vencedor do Prêmio de Poesia concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes, e do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, Narciso se destaca como um “estranho realismo-lírico”.

Já na obra dedicada à musa Érato, a quem os gregos viam a fonte de inspiração da poesia lírica ou erótica, o poeta pernambucano traz “69 poemas eróticos e uma ode ao vinho”. Em uma das estrofes do poema 66, ele fala da tetralogia e define bem o que são a essência dos poemas de Érato: “Primeiro Sísifo / segundo Íxion / depois Narciso / e agora Érato / (ó musa) o abismo / é um sexo aberto”.

Ao prefaciar a publicação, o professor, diplomata, filólogo, ensaísta e crítico literário Antônio Houaiss (1915-1999) lembra que Érato é a única obra da tetralogia baseada em um personagem feminino. “A beleza deste livro é que, sem façanhices nem arreganhos agressivos e pedantes, Marcus Accioly nos oferece o amor erótico na plenitude – sem medos e sem ofensas, como se eternamente jamais se tivesse revestido de falsos pudores ou de ostensivos rancores”, afirmou.

Marcus Moraes Accioly nasceu em Aliança, município da Zona da Mata Norte pernambucana. Foi professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira na UFPE e publicou 14 livros e cerca de 30 inéditos. Marcus Accioly foi ainda presidente do Conselho Estadual de Cultura e secretário-executivo do Ministério da Cultura (Governo Itamar Franco), na gestão de Antônio Houaiss. Morreu em outubro de 2017, aos 74 anos, vítima de um infarto fulminante.

Tetralogia
Sísifo, Íxion, Narciso (1984) e Érato
Marcus Accioly
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Rascunho

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