As tensões entre raça e classe no Brasil, os riscos do engajamento de boas intenções e a dor do luto são alguns dos temas destacados na 44ª edição da serrote, revista de ensaios do IMS. A publicação será lançada nesta quarta-feira (26), às 19h, na Livraria Tamarindo (Galeria Metrópole, São Paulo).
Na ocasião haverá um bate-papo com o sociólogo e escritor Evandro Cruz Silva, autor do livro de contos praia artificial e pesquisador com ênfase nos temas da segurança e da desigualdade, e a escritora e pesquisadora Juliana Borges, autora do livro Encarceramento em massa. A entrada é gratuita.
Os dois conversam sobre o ensaio de Evandro, Eu, minhas convicções e um moleque preto com arma na mão, que abre a nova edição da revista. A partir de um assalto que sofreu em Salvador, o autor reflete sobre as tensões entre ascensão social, racismo e o discurso da segurança.
Outro destaque da publicação Ă© o ensaio Hipocondria moral, assinado pela pesquisadora mexicana Natalia Carrillo e pelo espanhol Pau Luque. Os dois analisam como, em nome dos supostos bons sentimentos, parte das classes mĂ©dias progressistas ocidentais se engaja na polĂtica de forma narcisista, nĂŁo distinguindo entre culpa e responsabilidade.
A autora zambiana Namwali Serpell, por sua vez, escreve sobre como a figura da prostituta Ă© constantemente retratada no meio artĂstico, tanto na pintura quanto no teatro, passando pela literatura e pelo cinema e, mais recentemente, pela internet. Ainda que com mudanças na forma de representação, sua imagem continua gerando desconfortos na sociedade, como pontua a autora: “Hoje, nossa interpretação ainda Ă© incerta: a puta Ă© alguĂ©m que faz sexo por prazer, por dinheiro ou pelo prazer do dinheiro. TambĂ©m há uma suspeita de que a piranha gosta de seu trabalho, o que faz dela um exemplo raro de trabalhadora inalienada”.
Melina Moe, curadora de literatura na Biblioteca de Manuscritos e Livros Raros da Universidade Columbia, retoma como a consagrada escritora Toni Morrison conseguiu convencer a ativista Angela Davis a publicar seu livro de memĂłria pela Random House, em 1974.
Em seu ensaio, Moe narra as trocas e os diálogos entre as duas no processo de edição do livro, mas principalmente os esforços de Morrison dentro da editora para conseguir manter o tom politizado e militante de Davis no texto final.
Ainda no campo da cultura e das lutas do movimento negro, o poeta americano Ishmael Reed relembra os encontros do Black Arts Movement, grupo de artistas negros que redefiniu a cena cultural e polĂtica dos EUA nos anos 1960, do qual era um dos integrantes.
Reed relata, com afeto e sinceridade, as trocas entre os membros, as experimentações com a linguagem, as buscas por novas referĂŞncias para alĂ©m do cânone de autores brancos e tambĂ©m as disputas e discordâncias, polĂticas e estĂ©ticas, que marcaram o movimento, num balanço sobre sua trajetĂłria e legado.
A revista publica tambĂ©m um ensaio sobre o luto escrito por Joseph Epstein. Partindo de sua prĂłpria experiĂŞncia com a morte de seu filho, o autor norte-americano propõe que a dor da perda “assume tantas formas que Ă© impossĂvel de ser capturada satisfatoriamente pela filosofia ou pela psicologia”, podendo se manifestar tanto pela raiva quanto pela tristeza profunda ou mesmo pelo alĂvio. Para o escritor, “a natureza da dor Ă© tĂŁo diversa quanto suas causas. Como o diabo, a dor está nos detalhes.”
TambĂ©m com tom intimista, Paloma Vidal assina o ensaio Pra onde a gente tá indo, no qual intercala fotografias, mapas e frames de vĂdeos com reflexões sobre a volta Ă s salas de aula depois da pandemia, o ensino da literatura e a histĂłria de sua famĂlia, marcada pela ditadura argentina. O ensaio foi apresentado originalmente na serrote ao vivo, durante o Festival Serrote 2023.
Serviço:
Debate de lançamento da serrote #44, com Evandro Cruz Silva e Juliana Borges
26 de julho (quarta-feira), Ă s 19h
Livraria Tamarindo
Galeria MetrĂłpole, L.19 – 1o andar, Av. SĂŁo LuĂs, 187, SĂŁo Paulo, SP
Entrada gratuita