A notícia de que Cleo Monteiro Lobato, bisneta de Monteiro Lobato, pretende reeditar livros do autor suprimindo trechos considerados racistas por alguns críticos gerou reação entre integrantes do governo Jair Bolsonaro. O secretário de Cultura, Mário Frias, e o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, criticaram nas redes sociais a notícia.
Neste mês, a obra A menina do narizinho arrebitado, de Lobato, completou 100 anos. O livro traz passagens em que a personagem Tia Nastácia é chamada de “macaca de carvão”.
“Eu acho que há passagens problemáticas para quem lê os livros hoje em dia. A gente queria uma versão atualizada, cujo teor fosse compatível com os valores sociais contemporâneos, mas que mantivesse o estilo do Lobato”, disse Cleo à Folha de S. Paulo quando o projeto foi anunciado.
Mário Frias reagiu nas redes sociais classificando como uma “vergonha” a edição da obra de Lobato. “Quantos livros e histórias maravilhosas que embalaram minha infância. Que vergonha!”.
Já Camargo utilizou como exemplo o pai, o poeta Oswaldo de Camargo, para criticar a bisneta de Lobato. “Meu pai é escritor. Alterar uma única palavra de sua obra, após sua morte, seria como esfaqueá-lo pelas costas.” Ele também acusou a esquerda de ser mais racista que Monteiro Lobato e usou termos como “ofendidinho” e “afromimizento” para criticar quem apoia a alteração das obras do escritor.
Há alguns anos a obra de Monteiro Lobato vem passando por uma reavaliação crítica. De um lado, há quem defenda a edição do texto original para que haja uma readequação aos valores mais contemporâneos. No entanto, há também quem prefira a preservação do texto original como forma de não mutilar a obra do autor.