A DBA acaba de lançar LĂngua interior, novo romance do franco-argelino Kamel Daoud, vencedor do PrĂŞmio Goncourt de 2024. A obra retoma a guerra civil que devastou a ArgĂ©lia entre 1992 e 2002 — conflito que deixou cerca de 200 mil mortos e permanece, por imposição legal, um tema silenciado no paĂs.
A protagonista, Aube, sobreviveu a uma tentativa de degola durante o massacre que exterminou sua famĂlia e sua aldeia natal. A jovem, entĂŁo com 26 anos, perdeu a voz e passou a carregar no pescoço uma cicatriz “em formato de sorriso”, marca de um assassino interrompido. Adotada por uma advogada, Aube reconstrĂłi a vida em OrĂŁ, onde se torna proprietária de um salĂŁo de beleza.
Grávida, comunica-se com a filha que espera por meio de uma “lĂngua interior” — “a lĂngua do sonho, dos segredos, a lĂngua daquilo que nĂŁo tem lĂngua”. Dividida entre interromper ou levar adiante a gestação, decide retornar Ă regiĂŁo onde ocorreu o massacre, na tentativa de reencontrar respostas entre os mortos.
Em LĂngua interior, Daoud contrapõe a experiĂŞncia Ăntima de Aube ao testemunho coletivo da guerra, construindo uma narrativa ao mesmo tempo alegĂłrica e realista. “Este nĂŁo Ă© um romance sobre a morte ou a sobrevivĂŞncia, mas sobre a ressurreição”, define o autor. A crĂtica internacional classificou o livro como “uma avaliação implacável dos traumas do silĂŞncio patrocinado pelo Estado” (The Times Literary Supplement) e “uma obra-prima” (Franz-Olivier Giesbert, RTL).
Nascido em 1970, Kamel Daoud Ă© escritor e jornalista de expressĂŁo francesa. Autor das novelas La Fable du nain (2003) e Ă” Pharaon (2005), ganhou projeção mundial com O caso Meursault (Biblioteca Azul, 2013), que lhe rendeu o PrĂŞmio Goncourt de Romance de Estreia. TambĂ©m publicou Zabor ou Les psaumes (2017). Com LĂngua interior, consagra-se novamente como um dos principais nomes da literatura francĂłfona contemporânea.