🔓 Romance inédito do peruano César Vallejo ganha tradução

“Tungstênio” denuncia a exploração das riquezas minerais do Peru e é considerado um marco literário da narrativa indigenista latino-americana
César Vallejo, autor de “Tungstênio”
11/02/2021

Uma das obras em prosa mais importantes do poeta e dramaturgo peruano César Vallejo ganha tradução pela primeira vez no Brasil. A edição do romance Tungstênio sai pela Iluminuras, com tradução e posfácio de Jorge Henrique Bastos.

O livro foi publicado pela primeira vez em Madri, em 1931, e só lançado no Peru em 1957, quase 20 anos após a morte do autor, ocorrida em Paris, em 1938, onde era reconhecido como um dos nomes importantes da literatura latino-americana.

Respeitado sobretudo como poeta, autor de livros emblemáticos como Os arautos negros, Trilce e Espanha, afasta de mim esse cálice, Vallejo escreveu várias obras de ficção.

Ao longo das últimas décadas, essa parte da sua obra tem sido reavaliada, como é caso de Tungstênio, que adquiriu uma relevância explícita, e reconhecido pela crítica como um marco literário da narrativa indigenista do Peru, antecipando inclusive um autor como José María Arguedas.

Tungstênio é a tentativa veemente de Vallejo de denunciar a exploração não só das riquezas minerais como do povo peruano. Em simultâneo, alerta para o tratamento desumano das populações indígenas, com a complacência das oligarquias locais, suplantando dessa maneira tempo e espaço, e fixando sua narrativa com a força da atemporalidade.

Tudo decorre na região serrana de Colca, onde se situam as minas de tungstênio, metal que o Peru chegou a produzir em larga escala até a pouco tempo. Uma empresa norte-americana — a Mining Society — é a responsável pela extração do metal, que envia para os Estados Unidos, prestes a entrar na Primeira Guerra Mundial. Para o efeito, emprega uma legião de indígenas e a população mais desvalida, cujo trabalho se efetua sob o regime de semiescravidão.

Ao contrário da poesia do autor, sua ficção transita sobre os aspectos mais crus da realidade que marcou — ainda marca — o Peru e, por extensão, a América Latina.

César Vallejo é um dos principais poetas da literatura sul-americana. Mestiço, a origem humilde afetou profundamente sua vida e obra. Estudou literatura e direito.Em seu primeiro livro de poemas, Los heraldos negros (1918), ele revelou os principais temas de sua obra: o luto e a insegurança causados pela morte de sua mãe e irmão, as limitações e o vazio da vida, a dificuldade do homem para lidar com a opressão social e encontrar justiça para superar a falta.

Outras obras notáveis de Vallejo incluem Escalas melografiadas (1923), Paco Yunque (1931), Contra el secreto profesional e El arte y la revolución.

Tungstênio
César Vallejo
Trad.: Jorge Henrique Bastos
Iluminuras
168 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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