No romance Gelo, lançado pela Fósforo, Anna Kavan — pseudônimo de Helen Woods — descreve o fortalecimento de um triângulo amoroso em meio ao iminente fim da humanidade, prestes a ser varrida da Terra por uma avalanche de gelo.
A obra, de tom experimental e onírico, foi publicada em 1967 e acolhida com entusiasmo pela crítica, que comparou a autora com nomes como Kafka, Virginia Woolf e Samuel Beckett. Além disso, Anaïs Nin e Doris Lessing também aplaudiram o feito literário.
Três personagens dão corda à história: o narrador, “o guardião” e “a garota”, com seus cabelos brancos de tão loiros, tratada sempre como vítima incapaz e indefesa — o que dá um ar protofeminista ao trabalho de Kavan, que também parece ter antecipado catástrofes climáticas.
“Meio século depois de sua publicação, o delírio febril da autora está começando a parecer real demais”, anotou a The New Yorker sobre Gelo. A revista salienta, ainda, como a leitura é uma “experiência desorientadora” e “esgotante emocionalmente”.
Anna Kavan (1901-1968) morou na Europa, Estados Unidos e Inglaterra. A revolução na sua obra literária aconteceu após um internamento, em 1938, devido a colapsos nervosos e vício em heroína. Gelo surgiu depois desse período.