O romance Siríaco e Mister Charles (Quetzal), do cabo-verdiano Joaquim Arena, e os poemas de O gosto amargo dos metais (7Letras), de Prisca Agustoni, venceram o prêmio Oceanos 2023. Os escritores receberam R$ 150 mil cada.
Pela primeira vez na história do Oceanos, as inscrições foram divididas entre prosa e poesia, com dois júris diferentes. Foram 1.188 livros inscritos de poesia e 1.466 de prosa.
Além do livro vencedor, os finalistas de poesia foram Alma corsária, de Cláudia Roquette-Pinto (Editora 34), Diário da encruza, de Ricardo Aleixo (Segundo Selo), Entre costas duplicadas desce um rio, de Guilherme Gontijo Flores (Ars et Vita) e Paraíso, de Pedro Eiras (Assírio & Alvim).
Também eram finalistas na categoria prosa: A história de Roma, de Joana Bértholo (Caminho), A última lua de homem grande, de Mário Lúcio Sousa (Dom Quixote), Misericórdia, de Lídia Jorge (Dom Quixote) e Naufrágio, de João Tordo (Companhia das Letras Portugal).
Os vencedores
O gosto amargo dos metais, de Prisca Agustoni, nasce do impacto dos crimes ambientais ocorridos em Minas Gerais, primeiro em Mariana e depois em Brumadinho, em que uma avalanche de lama de rejeito de mineração destruiu bairros inteiros, tirou centenas de vidas e tingiu de marrom o rio doce, um dos mais importantes do Brasil. “As imagens terrificantes que circularam me lembraram uma tragédia de proporções épicas, como se o mundo estivesse vivendo um novo fim – e, paradoxalmente, um estranho recomeço”, diz a autora no prefácio do livro.
Prisca Agustoni (1975) é poeta, tradutora e professora de literatura na faculdade de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nascida na Suíça e vivendo no Brasil, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português. Suas publicações mais recentes são Un ciel provisoire, Casa dos ossos, animal extremo, O mundo mutilado, L’ora zero e Língua sommersa.
Síriaco e Mister Charles, de Joaquim Arena, conta a história de uma amizade ficcional entre dois personagens reais. De um lado, o jovem cientista Charles Darwin. De outro, Siríaco, um desconhecido homem negro, ex-escravizado, que nasceu no Brasil, foi educado em Portugal e, por ter a pele marcada por vitiligo, integrou a chamada “corte exótica” da Rainha Dona Maria I, composta ainda por indígenas e pessoas com nanismo. No romance, os dois se encontram em Cabo Verde (e aqui tudo já é ficção), lugar em que Siríaco decidira viver após ancorar na Ilha de Santiago com a família real durante a fuga de 1807, e onde Darwin passou 16 dias no início de suas investigações naturalistas que teriam como resultado o livro A origem das espécies.
Joaquim Arena é escritor e formado em Direito, em Lisboa. Nascido na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, é filho de pai português e mãe cabo-verdiana. Foi assessor do presidente Jorge Carlos Fonseca até 2021. A verdade de Chindo Luz foi o seu primeiro romance, depois publicou Debaixo da nossa Pele, um ensaio-reportagem sobre os seus antepassados, escravos e trabalhadores livres nos campos de arroz do Vale do Sado.