Em 1960, Julio Cortázar vai de navio a Nova York e durante a viagem, “para não se entediar”, escreve Os prêmios. O livro ganha agora uma nova edição no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução de Ernani Ssó.
O livro começa de modo enigmático. Homens e mulheres de diferentes idades, profissões e classes sociais são contemplados, ao acaso, numa dita Loteria Turística: o prêmio é uma viagem num luxuoso cruzeiro com duração incerta e destino desconhecido.
Ao longo do percurso, a busca por prazer e descanso dá lugar a uma série de mistérios, conflitos e intrigas envolvendo os passageiros e a tripulação a bordo do Malcolm, embarcação da companhia Magenta Star.
Lançado em 1960, Os prêmios combina alegoria surrealista, reality show, aventura metafísica e sátira político-social da Argentina do período. Numa habilidosa construção de tipos sociais e suas relações, e de mãos dadas ao universo angustiante de Kafka e ao absurdo de obras como O anjo exterminador, de Luis Buñuel, e O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati, a imaginação e a liberdade criativa de Cortázar dá os primeiros passos rumo a obras de vanguarda que o autor escreveria mais tarde.
Nascido em Bruxelas, em 1914, Cortázar e sua família voltaram à Argentina em 1918, depois de passagens por Zurique e Barcelona. Em 1938, publicou seu primeiro livro, de poesia, Presencia, sob o pseudônimo de Julio Denis.
Em 1944, escreveu o conto Bruja, assinando como Julio Cortázar. Bestiário, que se tornaria um dos volumes de contos mais célebres da literatura latino-americana, foi publicado em 1951. A ele seguiram-se volumes como Fim do jogo (1956), As armas secretas (1959), O jogo da amarelinha (1963), Todos os fogos o fogo (1966), Octaedro (1974), entre outros.