Morreu neste sábado (17) a escritora carioca Nélida Piñon. Ele tinha 85 anos e estava em Lisboa, Portugal. Segundo informações do colunista Ancelmo Gois, do jornal O globo, a Academia Brasileira de Letras (ABL), na qual Nélida ocupava uma cadeira desde 1989, está providenciando o translado do corpo, que será velado no Petit Trianon, do Rio de Janeiro.
Autora de livros de sucesso, Nélida foi a primeira mulher a presidir a ABL em 100 anos. A autora nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e se formou em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
No Twitter, o colega de ABL Marco Luchesi lamentou a morte da amiga. “Nélida Piñon, em lágrimas, eu me despeço. Não tenho palavras.”
Nélida estreou em 1961, com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo. Escreveu cerca de 20 livros, entre os quais Vozes do deserto, A casa da paixão e A república dos sonhos. Em 2009 lançou Coração andarilho, uma obra com memórias de sua infância, em que reflete sobre suas raízes espanholas. Nesse mesmo ano, a escritora foi a convidada de uma das edições da quarta temporada do Paiol Literário — projeto desenvolvido pelo Rascunho.
A autora falou sobre sua infância no Brasil e na Galícia, sua formação literária e seu amor pela oralidade e pelas diferenças culturais, relembrou sua amizade com escritores como Philip Roth, John Updike, William Styron e Clarice Lispector e discorreu sobre feminismo, engajamento político e o papel da mulher na literatura.
“Desde menina, eu sou eu. Sou um coração andarilho. Sempre fui uma grande aventureira. Quando criança, meu ideal de vida era pular a janela e sair mundo afora, sem jamais dormir uma segunda noite debaixo do mesmo teto. Uma vida extraordinária”, disse a autora em conversa mediada com o escritor José Castello.
E ainda lembrou da amiga Clarice Lispector. “Queria, um dia, ser amiga de Clarice, e em igualdade de condições, com o devido respeito. E isso aconteceu. Foi uma amizade de 18 anos, que só terminou com a morte dela. Fiquei com ela, no hospital, os últimos 40 dias, segurando sua mão esquerda, e a Olga Borelli, sua mão direita. Posso falar sobre isso agora. Antes, não falava sobre Clarice. Me dava muita dor.”