Os discursos de ódio disseminados na internet foram objeto de estudo da professora e doutora em Linguística Mércia Regina Santana Flannery e estão no livro Nós versus eles — discurso discriminatório, preconceito e linguagem agressiva na comunicação digital no Brasil, que a editora Cepe lança nesta terça-feira (8).
A live de lançamento acontece às 19h, no canal da Cepe no YouTube, com participação da autora e dos linguistas Antonio José e Kleber Silva, com mediação da repórter especial da Revista Continente, Débora Nascimento.
Com 304 páginas divididas em 13 capítulos, o livro traz enxertos de comentários de internautas (sob anonimato) para esmiuçar seus discursos e, dessa forma, mostrar ao leitor como a linguagem agressiva age no ambiente virtual para, quem sabe, fazer com que seja neutralizada.
A julgar por comentários na imprensa e redes sociais, o brasileiro passou do estereótipo de cordial para o de intolerante e autoritário. A narrativa que impera em fóruns de discussões online é de racismo, xenofobia, polarizações políticas, intolerância religiosa, homofobia e machismo.
Uma das maiores características apontadas é a tendência à polarização. Segundo Mércia, essa tendência existe tanto no discurso político, quanto público e midiático. “Qualquer tema, pode-se afirmar, tem o potencial de causar pequenas batalhas ideológicas, que fazem as pessoas se esquecerem de que, possivelmente, têm mais em comum do que imaginam. Este traçar de trincheiras e estes posicionamentos polarizados, muito rígidos e antagônicos são apropriadamente capturados na expressão ‘nós versus eles’”, explica.
Em sua análise sociolinguística, ela constata que “a sociedade brasileira não é, infelizmente — e ao contrário do que ainda se pode pensar —, um modelo de harmonia e inclusividade”.
Para a linguista, está faltando algo essencial: o diálogo. Não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo. “Parece que as pessoas esqueceram que não precisamos ter as mesmas opiniões, e que dialogar sobre as diferenças é algo muito saudável. Dialogar, porém, envolve a noção de troca, o que não ocorre se, a priori, as partes já sabem — ou acreditam —que estão certas”, pontua a pesquisadora.
Mércia Regina Santana Flannery é licenciada em Letras, mestre e doutora em Linguística, com especialização em Sociolinguística e Análise da Narrativa Oral. É diretora do Programa de Língua Portuguesa e Cultura Lusófona do Departamento de Estudos Hispânicos e Portugueses da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, Estados Unidos.