A Editora 34 acaba de publicar mais um volume da Coleção Leste, dedicada à prosa e poesia de autores do leste europeu. O rei Lear da estepe (1870), do russo Ivan Turguêniev (1818-1883) ganha pela primeira vez tradução direta do original, vertida por Jéssica Fajardo.
Atento ao que havia de mais original na cultura europeia de seu tempo, mas com os afetos e a sensibilidade firmemente ancorados na realidade russa, Turguêniev produziu uma obra que se tornaria modelo para um sem-número de escritores em todo o mundo.
Em O rei Lear da estepe, ele parte da conhecida tragédia de Shakespeare, na qual o soberano, com idade avançada, abre mão de seu reino para legá-lo às filhas, mas ambienta-a na pequena propriedade rural de uma província russa.
Para reconstruir a trama da corte inglesa no campo povoado por senhores, servos, agregados e trabalhadores pobres, Turguêniev lançou mão, com extrema habilidade, de suas próprias experiências de juventude, retomando o que havia feito em Memórias de um caçador, livro de 1852.
O resultado é uma obra com vida própria, repleta de enigmas e sutilezas que, 150 anos após a sua primeira publicação, ainda desafia a interpretação e mantém o leitor intrigado. O volume inclui ainda o Discurso sobre Shakespeare, de Turguêniev, proferido no tricentenário do dramaturgo inglês, e um posfácio da tradutora Jéssica Farjado.
Ivan Turguêniev nasceu em 1818, em Oriol, na Rússia. De família aristocrática, viveu até os nove anos na propriedade dos pais, Spásskoie, e em seguida estudou em Moscou e São Petersburgo. Em 1838, mudou-se para Berlim, onde frequentou cursos de filosofia, letras clássicas e história.
Em 1843, conheceu o grande crítico literário Bielínski. Influenciado por suas ideias, Turguêniev começou então a publicar contos inspirados pela estética da Escola Natural, depois reunidos em Memórias de um caçador (1852), coletânea que obteve enorme sucesso na Rússia e na Europa.
Nos anos 1850 escreveu diversas obras em prosa, entre elas Diário de um homem supérfluo (1850), Ássia (1858) e Ninho de fidalgos (1859). Lançou seu primeiro romance, Rúdin, em 1856. Em 1860 escreveu a novela Primeiro amor e, dois anos depois, publicou Pais e filhos (1862), romance considerado hoje um dos clássicos da literatura mundial. Consagrado como um dos maiores escritores russos, ao lado de Dostoiévski e Tolstói, e autor de vasta obra que inclui teatro, poesia, contos e romances, Ivan Turguêniev faleceu na cidade de Bougival, próxima a Paris, em 1883.