Estudioso da história do livro e da edição, o americano Robert Darnton, em seu mais recente trabalho publicado no Brasil, se debruça sobre o comércio de livros na Europa na segunda metade do século 18.
Pirataria e publicação: o comércio de livros na era do Iluminismo, lançado pela Editora Unesp, explora as maneiras como os editores daquela época procediam — seus modos de pensar e suas estratégias para traduzir capital intelectual em valor comercial.
Pelo menos metade dos livros vendidos na França entre 1750 e 1789 foram pirateados. Devido às políticas do Estado, preocupadas com a vigilância e a censura, a chamada Guilda de Paris monopolizou a impressão de livros, levando livreiros das províncias a buscar editoras que produziam livros franceses em locais estratégicos fora das fronteiras do reino.
Portanto, as falsificações, mais baratas que as obras produzidas em Paris, invadiram o mercado francês, pavimentando as ideias que inspiraram a Revolução Francesa.
“O Iluminismo como um todo foi impulsionado pela força dos livros. Sob o Ancien Régime, porém, o comércio de livros se via prejudicado por condições que hoje pareceriam impossíveis”, anota Darnton.
“Não havia liberdade de imprensa nem direitos autorais; não havia royalties nem rendimentos; e não havia responsabilidade limitada. Pouquíssimos autores viviam de suas penas e quase não havia bancos. Também havia muito pouco dinheiro — na verdade, não havia dinheiro na forma de cédulas de papel garantidas como espécie legal pelo Estado. Como os livros conseguiram se tornar uma força sob tais condições?”
Ao longo de três grandes eixos, a obra pretende mostrar como operava a indústria da publicação: na primeira parte, detalha as “regras do jogo” — ou a ausência delas como as conhecemos hoje em dia; na segunda, traz o funcionamento da pirataria; e, na terceira, debruça-se sobre uma editora suíça, uma das maiores e com arquivos bastante completos.
“É claro que a força dos livros reside principalmente em seu conteúdo: o lume da sagacidade de Voltaire, o vigor da paixão de Rousseau, a audácia dos experimentos mentais de Diderot — tudo isto ganhou seu justo reconhecimento no coração da história literária”, explica Darnton.
Robert Darnton é Carl H. Pforzheimer Professor e bibliotecário emérito da Universidade de Harvard. Estudioso da história da França do século XVIII, notabilizou-se também como um dos maiores especialistas do mundo em história do livro e da edição.