Com organização e prefácio de Luiz Ruffato, a Carambaia publica uma nova reunião de contos de Machado de Assis. O escrivão Coimbra e outros contos traz 17 histórias curtas organizadas em ordem cronológica reversa, começando pela história que lhe dá título, a última publicada pelo escritor, um ano e oito meses antes de morrer.
Trata-se, apropriadamente, de uma história sobre a velhice, cujo protagonista é um idoso obcecado por ganhar na loteria. Machado exercita uma amarga ironia — não no sentido do sarcasmo, mas das reviravoltas da vida.
Essa marca, em intensidades e formas diferentes, se mantém nos primeiros contos do volume — o trágico Pai contra mãe e o amoral Umas férias. O tom vai mudando com o ousadamente erótico Missa do galo, um dos títulos mais conhecidos de Machado, e o humor de Um homem célebre, intercalados pelo moralmente implacável O caso da vara, um dos três contos da antologia que abordam o tema da escravidão, ao lado do já citado Pai contra mãe e de Mariana
Luiz Ruffato considera o conto o gênero em que Machado se sentia mais à vontade, e nele produziu “duas dúzias de obras-primas”. Segundo o antologista, as histórias reunidas no novo volume apresentam “a perfeita adequação entre o como e o quê”.
Amor e terror
Os elementos fantásticos e de terror — tributários da admiração do escritor carioca que quase nunca saiu do Rio de Janeiro pela obra de Edgar Allan Poe — são a matéria-prima de A causa secreta, O enfermeiro e O espelho.
Já as desilusões amorosas — sempre com uma precisa descrição dos sentimentos amorosos, matizados pela dura, inevitável ironia — surgem no conhecido A cartomante e em Noite de almirante, Singular ocorrência e Confissões de uma viúva moça, este o mais antigo da antologia, que provocou reações escandalizadas diante do comportamento da protagonista.
Joaquim Maria Machado de Assis foi tipógrafo, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e dramaturgo, sendo o maior escritor brasileiro e um dos grandes da literatura universal. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu na mesma cidade, em 29 de setembro de 1908.
De sua vastíssima obra, destacam-se quatro romances fundamentais: Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó.