(06/10/20)
A escritora Adriana Lisboa acha que Chico Buarque é merecedor do Nobel de Literatura, “não apenas pelo grande poeta e prosador que é. Mas pelo recado fundamental que seria a sua vitória no momento: o Brasil é muito melhor do que tudo leva a crer nestes tempos neofascistas”, diz a autora do romance Hanói, quarta convidada da série do Rascunho em que autores brasileiros fazem suas apostas para o Nobel.
Neste ano o compositor e escritor brasileiro recebeu o Prêmio Camões, a honraria mais importante de língua portuguesa. O prêmio gerou polêmica porque o presidente Jair Bolsonaro disse que não assinaria o certificado da homenagem. Chico, crítico do atual governo, respondeu afirmando que não ter a assinatura de Bolsonaro em seu prêmio era “como ganhar dois Camões”.
O Nobel, também envolto em polêmicas nos últimos anos, anuncia o vencedor deste ano na próxima quinta-feira (8). O prêmio já foi concedido a um compositor de canções populares. Bob Dylan levou o Nobel em 2016. Mas, diferentemente do americano, Buarque tem uma obra literária bem mais sólida, além do rico cancioneiro que construiu.
Lisboa, que vive há 14 anos nos Estados Unidos, também cita a escritora nascida em Guadalupe, no Caribe, Maryse Condé, “pela solidez de sua obra ficcional e teatral”.
Maryse Condé
(escritora e ativista nascida em Guadalupe, território francês no Caribe, 83 anos)
“A importantíssima (e por tanto tempo ignorada) escritora de Guadalupe, que recebeu o ‘Nobel alternativo’ em 2018, pela temática do colonialismo no Caribe e da diáspora africana, e pela solidez de sua obra ficcional e teatral, que já se estende por mais de 40 anos.”
Margaret Atwood
(poeta, contista e romancista canadense, 80 anos)
“A canadense Margaret Atwood, a quem o Nobel é devido há muitos dos seus brilhantes 60 anos de carreira, pela importância do seu trabalho literário, que toca em temas éticos fundamentais naquilo que ela define como ‘ficção especulativa’ — como, por exemplo, os direitos animais, tantas vezes esquecidos mesmo por quem luta contra o machismo, o racismo, a homofobia, etc. (falar de direitos animais também é questionar um lugar de poder).”
Chico Buarque
(músico, compositor e romancista brasileiro, 76 anos)
“Nosso Chico Buarque, esse poeta gigante, intelectual e artista íntegro, que há décadas vem fazendo a gente se orgulhar de ser brasileiro, mesmo quando o orgulho significa, como no momento atual, nadar contra a corrente. [Merece o Nobel] Pelo seu posicionamento firme contra os movimentos retrógrados de direita que vemos no Brasil e em tantas partes do mundo. Chico Buarque, não apenas pelo grande poeta e prosador que é, e que admiro desde que me entendo por gente, mas pelo recado fundamental que seria a sua vitória no momento: o Brasil é muito melhor do que tudo leva a crer nestes tempos neofascistas.”
>>> Confira amanhã as apostas do contista e romancista Marcelino Freire.