A pernambucana Micheliny Verunschk está lançando seu quinto livro, O som do rugido da onça, o primeiro da autora pela Companhia das Letras. Trata-se de um romance histórico que parte da trajetória dos pesquisadores alemães Von Spix e Von Martius, que chegaram ao Brasil em 1817, integrando a maior expedição científica de exploração da fauna e flora brasileira até hoje.
Após três anos de pesquisas — e 10 mil Km percorridos —, os naturalistas voltaram para a Europa com oito crianças indígenas capturadas, prática considerada comum nos séculos 18 e 19.
Ao fim da viagem, apenas duas crianças sobreviveram: uma jovem da tribo Miranha e um garoto da tribo Juri — com idades entre 12 e 14 anos. Iñe-e e Juri foram rebatizados de Johannes e Isabella; o garoto faleceu apenas seis meses depois e seu corpo foi dissecado e um molde de cera foi feito de seu rosto para fazer uma máscara mortuária.
A menina morreu 12 meses depois de chegar à Munique. Subvertendo o olhar eurocêntrico dos pesquisadores (e da História), Micheliny Verunschk imagina quais teriam sido os medos e as angústias das crianças indígenas, ao serem retiradas à força do seu povo e se verem em uma terra tão distinta.
O som do rugido da onça é resultado de um vasto trabalho de pesquisa pela autora.Verunschk mescla prosa ficional com trechos reais dos relatos de viagens de Spix e Martius, recortes de jornais, artigos e manchetes de periódicos alemães e franceses do século 19.
Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura com Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (2014), Micheliny Verunschk é escritora e historiadora. Foi duas vezes finalista do Prêmio Rio de Literatura, além de finalista do antigo Prêmio Portugal Telecom, hoje Prêmio Oceanos.