Uma das principais referências na história da luta contra o colonialismo, ideólogo do conceito de negritude nos anos 30, Aimé Césaire (1913-2008) produziu uma obra rica e influente a partir de sua própria experiência.
Textos escolhidos, que a editora Cobogó publica pela coleção Encruzilhada, reúne três de suas mais emblemáticas criações: A tragédia do rei Cristophe, Discurso sobre o colonialismo e Discurso sobre a negritude, que oferecem ao leitor uma visão dos ensaios e do teatro do poeta, dramaturgo e político nascido na Martinica.
Aimé Césaire foi um fervoroso defensor das raízes africanas e um militante anticolonialista. Por toda sua vida, como homem político e como homem de letras, Césaire lutou ferozmente pelo anticolonialismo.
Foi presidente da Câmara de Fort-de-France, capital da Martinica, e deputado na Assembleia Nacional Francesa durante quase 50 anos. Ao mesmo tempo que trabalhou numa atividade política contínua, nunca se apartou de sua vida literária publicando ininterruptamente ao longo da vida, entre poesia, teatro, ensaios.
Traduzidos por Sebastião Nascimento, esses textos escritos décadas atrás continuam a mover e a inspirar o pensamento decolonial em todo o mundo. Publicado no início dos anos 1950, no contexto do pós-guerra, Discurso sobre o colonialismo denuncia a civilização ocidental ao apresentar o colonialismo e o racismo como elementos essenciais do capitalismo e da modernidade.
Rompendo com as orientações dominantes de seu tempo, o ensaio enfatiza as contradições entre os valores morais professados pela Europa e os atos dos europeus ao longo de toda a história para comprovar que a noção de civilização europeia nunca passou de um pretexto para a exploração de recursos e mão de obra não europeus — principalmente do mundo negro. “A Europa é moral e espiritualmente indefensável”, escreve.
Discurso sobre a negritude surge em outro contexto. Escrito para ser apresentado em uma universidade da Flórida, nos Estados Unidos, em 1987, como parte da primeira conferência hemisférica dos povos negros, o texto redefiniu o conceito de negritude, incialmente desenvolvido por ele nos anos 1930.
Já na peça teatral A tragédia do rei Christophe, escrita no início dos anos 1960, ambientada no início do século 19, Césaire analisa as noções de dominação colonial, nação pós-colonial, liderança e identidade por meio da situação histórica do Haiti, enfatizando os esforços de resistência dos africanos escravizados na América e de seus descendentes.