O hipotĂ©tico fim da hegemonia global dos Estados Unidos Ă© o mote do novo romance da norte-americana Lionel Shriver. Em A famĂlia Mandible: 2029-2047, ela lança um olhar sagaz sobre a sociedade norte-americana contemporânea, em uma narrativa definida pelo jornal britânico The Guardian como “um retrato profundamente assustador do quĂŁo depressa o status quo desmoronaria sem o dinheiro lubrificando as engrenagens”.
Com a lembrança do colapso quase total do sistema financeiro internacional em 2008, a escritora ambienta o romance em um Estados Unidos em situação de penúria, com racionamento de água e inflação galopante.
A distopia tem inĂcio em 2029, ano em que uma guerra fria de escala mundial reestrutura a ordem socioeconĂ´mica do planeta, criando novos eixos de poder. A UniĂŁo Europeia se desfaz, a China enfim Ă© alçada ao posto de maior potĂŞncia econĂ´mica mundial e, da noite para o dia, o dĂłlar despenca. AlĂ©m do valor, perde tambĂ©m seu prestĂgio: o bancor, uma nova moeda internacional, chega para substituĂ-lo.
Em entrevistas, a autora afirma que tentou reforçar o que é viver com uma moeda cujo valor está em queda livre, mas quis que a história continuasse ficcional. Ela ressalta que está “de fato aterrorizada com a possibilidade de a trama escapar do papel e saltar para a vida real. Estou preocupada, a única coisa que fiz de errado foi situar o romance no ano de 2029. É provável que uma crise envolvendo o valor do dólar ocorra muito antes”, diz a autora do best-seller Precisamos falar sobre o Kevin, que inspirou filme homônimo estrelado por Ezra Miller.
No novo romance, Shriver narra a saga de quatro gerações de uma famĂlia norte-americana outrora prĂłspera mergulhada no colapso econĂ´mico dos Estados Unidos. Florence Mandible sofre as consequĂŞncias desse cenário como uma tĂpica moradora de classe mĂ©dia do Brooklyn. Uma cabeça de repolho custa 20 dĂłlares e o ritual matinal nĂŁo inclui mais cafĂ© — a mudança climática arruinou as safras — nem o The New York Times, que, junto com todos os jornais, deixou de existir. Caucasiana em uma AmĂ©rica onde os latinos se tornaram o grupo Ă©tnico dominante, Florence lembra da prĂłpria desgraça sempre que uma voz robĂłtica ao telefone instrui: “Pressione um para espanhol e dois para inglĂŞs”.
Lionel Shriver nasceu em 1957, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Formada e pĂłs-graduada pela Universidade de Columbia, Ă© autora dos best-sellers Precisamos falar sobre o Kevin — vencedor do PrĂŞmio Orange — e O mundo pĂłs-aniversário, alĂ©m de outros livros, como Dupla falta, Tempo Ă© dinheiro, Grande irmĂŁo e A nova repĂşblica. Como jornalista, já foi colaboradora de veĂculos como The Guardian, The Wall Street Journal, The Independent e a revista The Economist.