🔓 “Líbano, labirinto”, da portuguesa Alexandra Lucas Coelho, vence Prêmio Oceanos 2022

“Museu da Revolução”, de João Paulo Borges Coelho, e “O som do rugido da onça”, da pernambucana Micheliny Verunschk, também foram premiados
Alexandra Lucas Coelho, autora de “Líbano, labirinto”, livro vencedor do prêmio Oceanos 2022 (Foto Rui Gaudencio)
09/12/2022

Líbano, labirinto, da escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, foi o grande vencedor do  Oceanos — Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa em 2022. Essa é a primeira vez que um livro de não ficção figura entre os vencedores. Em segundo, ficou o romance Museu da Revolução, do moçambicano João Paulo Borges Coelho. O Brasil completa a lista com outro romance: O som do rugido da onça, da pernambucana Micheliny Verunschk.

O anúncio dos vencedores aconteceu pela primeira vez em um país de língua portuguesa do continente africano. Uma comitiva do prêmio foi a Moçambique para esse evento que encerrou uma programação literária de dois dias com escritores de Brasil, Moçambique e Portugal. Ela foi formada pela gestora cultural e coordenadora do Oceanos Selma Caetano, a jornalista e curadora portuguesa Isabel Lucas e o escritor timorense Luís Cardoso, vencedor do Oceanos 2021.

A cerimônia de anúncio aconteceu no Centro Cultural Brasil-Moçambique e foi transmitida ao vivo pelo site do Itaú Cultural e pelo canal do Oceanos no Youtube. O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores.

Ao todo, foram 7.881 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores. O valor total da premiação é de R$ 250 mil, sendo R$ 120 mil para o primeiro colocado, R$ 80 mil para o segundo e R$ 50 mil para o terceiro.

Participaram do júri final, que leu e avaliou os 10 livros finalistas para escolher os três vencedores, os brasileiros Cristhiano Aguiar, Guilherme Gontijo Flores, Joselia Aguiar e Júlia de Carvalho Hansen; o moçambicano Artur Bernardo Minzo; e as portuguesas Ana Cristina Leonardo e Helena Vasconcelos.

Livros vencedores

Líbano, labirinto
O livro da portuguesa Alexandra Lucas Coelho, publicado em Portugal pela Editorial Caminho, ficou em primeiro lugar. Essa é a primeira obra de não ficção a vencer o Oceanos.

Para Manuel da Costa Pinto, curador do Oceanos para o Brasil, a premiação desse livro tem, para além do reconhecimento de sua força literária, um grande significado simbólico para o Oceanos: pela primeira vez, o prêmio é atribuído a um livro inscrito na categoria ‘crônica’.

“Alinhavando histórias individuais e coletivas desse país tão ancestral quanto conflagrado, o livro associa o olhar cirúrgico sobre a realidade social e política a uma sensibilidade que a todo tempo interroga a própria experiência, dentro da tradição que leva do ensaio (em sua acepção original) à crônica contemporânea, passando pela linhagem dos grandes cronistas históricos portugueses, que fizeram da viagem o mote para flagrar o espanto diante da alteridade”, diz.

“Nessa coleção de pequenas histórias de viventes no Líbano, a autora constrói um livro poderoso sobre os afetos e a guerra, a angústia e a esperança. A obra combina e atualiza gêneros de tradição: a crônica, a grande reportagem, a narrativa de guerra, o testemunho e a memória”, diz Joselia Aguiar, jornalista e curadora literária que fez parte do júri que elegeu a obra.

Museu da Revolução
O romance do moçambicano João Paulo Borges Coelho, publicado em Portugal também pela Editorial Caminho e no Brasil pela Kapulana, conquistou o segundo lugar. É a segunda vez na história do Oceanos que um livro moçambicano se classifica entre os vencedores — na edição de 2018, o livro de poemas O deus restante, de Luís Carlos Patraquim, ficou entre os premiados.

Artur Bernardo Minzo, professor moçambicano que também compôs o júri final do Oceanos, destacou no romance a abordagem crítica das funções dos museus, da memória das pessoas e dos próprios livros como “utensílios” de construção das identidades nacional e universal. “Museu da Revolução esgravata as diferentes formas de (in)compreensão sobre as ‘guerras’ do projeto humano sempre inconcluso, destacando-se a guerra suprema pela vida e os ‘subconjuntos’ correlacionados: a guerra colonial em si, a guerra de tropas contra tropas inimigas, a guerra de países e suas ideologias antagônicas, a guerra de desejo de soldados contra o corpo de mulheres desprotegidas”, diz ele. “Mas, sobretudo, é a metáfora assombrosa da desqualificada e repugnante negação de valores como a vida, o amor, a paz, amizade, a verdade e a razão”, conclui.

O som do rugido da onça
Na terceira posição, ficou o romance da brasileira Micheliny Verunschk, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. A obra venceu também o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário.

De acordo com a poeta brasileira Júlia de Carvalho Hansen, também integrante do júri do Oceanos, O som do rugido da onça é um acontecimento literário raro. “O livro transforma os tempos passado e futuro, criando um romance histórico que é também contemporâneo”, afirma.

“Embora apresente parentescos com autores como Guimarães Rosa ou Mia Couto, enquanto apreende perspectivas de conhecimentos e mitos ameríndios, a escrita desse romance de Micheliny se faz única, reinventando com sofisticação e alegria a língua portuguesa”, continua a poeta para concluir: “além da rica originalidade textual, sua narrativa transporta e utiliza dentro da ficção questões urgentes aos debates contemporâneos: sejam elas ligadas à decolonialidade; ao reconhecimento da potência dos saberes da floresta ou mesmo da necessidade tão sutil como firme de operar a literatura através de posturas feministas.”

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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