Nas análises que compõem o livro As margens da ficção, lançado pela Editora 34, Jacques Rancière mostra que autores como William Faulkner, Virginia Woolf e Guimarães Rosa subverteram o modo tradicional de contar histórias.
Caminhando na contramão do modelo aristotélico de criar narrativas ordenadas com começo, meio e fim, a literatura de ficção moderna parece se ocupar com as miudezas do dia a dia e seus personagens anônimos.
Para Rancière, o modelo grego, que guia também a maneira de se produzir conteúdo dentro das ciências humanas, só serve para uma “ínfima parcela dos seres humanos”. O mais comum, afinal, é que os dias se repitam, sem que haja o encadeamento lógico de acontecimentos proposto pela literatura.
As Primeiras estórias de Guimarães Rosa, por exemplo, são classificadas como “fábulas experimentais do nada e do quase nada, do alguém e do ninguém”, nas quais o pensador francês vê “o lugar paradoxal da ficção, o lugar sem história onde as histórias podem desabrochar”.
Nascido em Argel, em 1940, Rancière lecionou Estética e Política por mais de 30 anos na Universidade de Paris VIII — Vincennes/Saint-Denis. Aisthesis: cenas do regime estético da arte (2011), O inconsciente estético (2001) e A partilha do sensível (2000) são algumas de suas publicações.