(17/12/20)
O jornal inglês The Guardian reuniu depoimentos de autores e amigos para homenagear John Le Carré, morto no último sábado, aos 89 anos. A contista e poeta canadense Margaret Atwood, o romancista irlandês John Banville e o dramaturgo inglês Tom Stoppard escreveram suas lembranças daquele que é considerado o maior escritor de romances de espionagem de todos os tempos.
Banville, assíduo na mídia britânica, contou sobre seu último encontro com Le Carré, “em um dia chuvoso” no verão passado. O autor inglês já estava no restaurante à espera do colega, foi então que Banville teve a ideia de lhe perguntar: “Em quantos restaurantes, bares e cafés vazios você sentou assim, esperando e observando, nos dias em que era um espião?”.
Le Carré sempre minimizou o significado daqueles dias, falando deles com irônico divertimento e dando a impressão de que no mundo da espionagem ele tinha sido pouco mais que um traficante de canetas. “Eu escolhi acreditar nele”, diz Banville.
Stoppard lembrou que era leitor do inglês muito antes de se tornar amigo dele. E revelou que ficou sabendo em primeira mão sobre o livro que Le Carré estava escrevendo. Já Atwood disse que conheceu a obra do amigo com O espião que veio do frio, que a cativou. Para ela, Le Carré está ao lado de George Orwell e Graham Greene entre os escritores “essenciais” para o momento que vivemos.
Colegas de trabalho e cineastas que adaptaram as obras do escritor também deram seus relatos. O ator Ralph Fiennes, que estrelou O jardineiro fiel, filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles a partir da obra de Le Carré, disse que o escritor estava “sempre de olho no roteiro”. “Acho que sentiu que algumas das adaptações anteriores de outros livros não funcionaram para ele.”
Le Carré escreveu 25 romances — e um livro de memórias, O túnel de pombos: histórias da minha vida, publicado no Brasil pela Record — em mais de seis décadas de carreira e usou a própria experiência como espião na construção de várias de suas tramas e personagens — ele trabalhou no MI6, o serviço de inteligência britânico.
Seu primeiro sucesso veio com o terceiro livro publicado, O espião que veio do frio, de 1963. O espião que sabia demais, transformado em filme e série, A guerra no espelho e O alfaiate do Panamá foram outros sucessos de sua carreira. Seus livros venderam mais de 60 milhões de exemplares em todo o mundo.