Primeiro romance de Ernesto Sabato (1911-2011), um dos grandes escritores argentinos no século 20, O túnel ganha uma nova edição no Brasil, desta vez pela CARAMBAIA, com tradução de Sergio Molina e posfácio de Caio Sarack, mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo.
Espécie de romance policial pelo avesso, crime e seu autor são revelados na primeira frase do livro pelo protagonista e assassino, o pintor Juan Pablo Castel. Segue-se um relato angustiado das circunstâncias e engrenagens íntimas que o levaram a matar a mulher pela qual se apaixonou, María Iribarne, depois de vê-la observando atentamente, numa exposição, um quadro de sua autoria. Não há detetives, mas uma autoinvestigação que tangencia a loucura, embora recoberta por uma racionalidade aparentemente rigorosa.
Físico de formação, o autor já havia publicado artigos e livros de ciência e filosofia. O túnel, contudo, apresentou-o para um público amplo e conferiu a Sabato prestígio imediato, dentro e fora da Argentina.
Com fortes tintas existencialistas, o romance chamou a atenção de Thomas Mann e Albert Camus – este promoveu sua publicação na França. Como os anti-heróis de Sartre e do próprio Camus, o protagonista de O túnel é um “eu” em processo de desintegração, preso num túnel que não consegue romper.
Tanto assim que os demais personagens do romance — o marido cego de María, um primo e uma prima dela, alguns amigos de Castel, até a própria María — têm algo de fantasmagórico. Pois quem conduz a história é Castel, guiado por sua paranoia e sua raiva.
A Castel faltam compaixão e habilidade para se comunicar e sobram niilismo e repulsa pela humanidade, sobretudo pelos críticos de arte. Nutre uma impaciência que o torna violento com frequência; sua insatisfação o leva a desejar reter a presença e a atenção de María, o que se revela impossível. A relação entre os dois se alterna entre momentos de ternura voláteis e muitas situações de atrito.
Antes e depois da publicação de O túnel, Sabato continuou escrevendo livros de ensaios, incluindo o estudo El otro rosto del peronismo. Somente em 1961 veio à luz o segundo romance do autor, Sobre heróis e tumbas, no qual retoma o estudo psicológico de O túnel sobre um pano de fundo histórico.
Em 1974 Sabato publicou o terceiro e último romance, Abaddón, o Exterminador. Entre outros volumes de não ficção, o escritor lançou em 1968 Tres aproximaciones a la literatura de nuestro tiempo, ensaios sobre Jorge Luis Borges, Alain Robbe-Grillet e Jean-Paul Sartre.