Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2021 com o romance Front, o mineiro Edimilson de Almeida Pereira surge agora com um livro a construção da literatura a partir da diáspora africana.
Em Entre Orfe(x)u e Exunouveau: análise de uma estĂ©tica de base afrodiaspĂłrica na literatura brasileira, o professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de JuĂz de Fora propõe dois neologismos por meio dos quais busca entender as diversas variantes da poesia e da literatura nacional.
Nesta ode ao mito de Exu, orixá que tem a pluralidade como caracterĂstica fundamental, ele apresenta um olhar pautado pela diáspora africana, sobre a construção literária no Brasil e no mundo.
“Orfe(x)u”, para Almeida Pereira, dá conta das manifestações literárias realistas, pautadas por questões mais concretas e calcadas na experiência, sendo representado pelo estilo de escritores como Luiz Ruffato, Marçal Aquino e Émile Zola, ao passo que “Exunouveau” se refere às obras em que a intuição e a imaginação são o pano de fundo. Clarice Lispector e James Joyce são exemplos dessa vertente.
A mescla de Exu com elementos da cultura europeia não é casual: neste ensaio originalmente publicado em 2017 e revisto e atualizado em nova edição, o autor defende que o orixá da comunicação e da linguagem, em toda a sua pluralidade, pode explicar tanto a literatura clássica quanto aquela de vanguarda. Com isso, ele faz da cultura iorubá um ponto de partida para entender o mundo, assim como o pensamento eurocêntrico tem feito com a própria mitologia ao longo da história.
Ao se debruçar sobre o Brasil, com a plena aceitação de que somos um paĂs perifĂ©rico, Almeida Pereira propõe a análise da nossa cultura a partir de estudos idealizados por outras sociedades fora do eixo Europa-Ocidente e mais prĂłximas a nossa realidade.