No final de junho, chega Ă s livrarias uma edição especial em dois volumes de Todos os diários, de LĂşcio Cardoso. Os tĂtulos fazem parte do projeto de reedição da obra do autor mineiro pela Companhia das Letras.
A edição inclui diários já publicados em vida e pĂłstumos, alĂ©m de textos dispersos que foram coletados em periĂłdicos e livros. Trata-se de uma edição ampliada e revisada dos diários de LĂşcio Cardoso, concebidos como um projeto artĂstico pelo prĂłprio autor. O primeiro volume traz os diários do autor atĂ© 1951, repletos de citações literárias e de investigações bĂblicas, uma obsessĂŁo de Cardoso.
O segundo volume traz textos inĂ©ditos do escritor, alĂ©m de uma coluna de jornal que Cardoso manteve e que recebeu o tĂtulo de Diário nĂŁo Ăntimo. De DostoiĂ©vski Ă BĂblia, de GuimarĂŁes Rosa a Freud, as leituras e citações feitas por LĂşcio Cardoso nos seus diários e textos recolhidos iluminam seu prĂłprio processo criativo, sua angĂşstia diante do papel, sua trajetĂłria de pensamento, o abismo entre a ideia e a escrita.
Para Manuel Bandeira, “aqui temos Lúcio contando na sua própria voz o seu próprio romance” — mais até que em sua esmerada ficção, “vemos nestas páginas um homem em luta consigo mesmo, com o seu destino, com o seu Deus”.
No prefácio, o organizador Ésio Macedo Ribeiro destaca o fato de Lucio Cardoso estar sendo redescoberto pelas novas gerações, com várias pesquisas acadêmicas sendo realizadas sobre sua obra.
Ribeiro ressalta a relevância dos diários de LĂşcio Cardoso, nos quais o autor revela aspectos Ăntimos de sua personalidade, viagens, encontros com amigos e suas preferĂŞncias artĂsticas. AlĂ©m disso, os diários tambĂ©m abordam temas como literatura, cinema, teatro, religiĂŁo, ciĂŞncia e suas relações afetivas.
No segundo volume, além dos diários de 1951 a 1962, encontramos escritos dispersos como o Diário proibido — páginas secretas de um diário e de uma vida, No meu tempo de estudante… e [Há muitos anos], publicados pela primeira vez em livro neste volume.
Lúcio Cardoso nasceu em 1912 em Curvelo, Minas Gerais. Em 1929, muda-se para o Rio de Janeiro, onde começa a escrever. Em 1930, publica os primeiros textos em jornais. Seu romance de estreia, Maleita, é lançado em 1934.
Produz novelas, contos, um livro infantil e romances, até que em 1959 publica Crônica da casa assassina — clássico instantâneo da literatura brasileira. Em 1962, sofre um derrame que paralisa o lado direito do corpo; privado da capacidade de escrever, começa a pintar e realiza quatro bem-sucedidas exposições. Morre de derrame, em 1968.