🔓 Diário mostra como foram os anos mais produtivos de Virginia Woolf

Terceiro volume de Os diários de Virginia Woolf foi escrito entre os anos 1924 e 1930, quando a autora inglesa publicou seus livros mais célebres
Virginia Woolf, que tem o terceiro volume de seus diários publicado no Brasil
22/03/2023

Entre 1924 e 1930, a inglesa Virginia Woolf escreveu a maioria das obras que a consagraram: em 1925, Mrs. Dalloway e O leitor comum, em 1927, Ao farol, em 1928, Orlando, em 1929, Um teto todo seu — e, em 1930, está no meio do processo de As Ondas, que lançaria em outubro do ano seguinte.

Período revelado com detalhes no terceiro volume de Os diários de Virginia Woolf, publicado pela Nós. No livro, a escritora deixa claro que não foi uma coincidência que essa intensa produção tenha relação com sua volta para Londres após uma década vivendo em Richmond, cidadezinha próxima. O ano de 1924 marcou a mudança da Hogarth House (que deu o nome à editora dos Woolf) para Tavistock Square, em Bloomsbury.

No dia 3 de janeiro daquele ano, a autora anotou: “É quase certo que este ano será o mais repleto de acontecimentos de toda a nossa (já registrada) carreira”. Em 5 de abril, quando se muda, diz: “Ah, a conveniência deste lugar! & o encanto também. Voltamos dos teatros a pé, pelo meio das entranhas de Londres. Por que adoro tanto esta cidade?… se ela é impiedosa & seu coração, frio como pedra”.

É nesse período, ainda, que floresce seu caso romântico com a escritora Vita Sackville-West. “Gosto dela & de estar com ela, & do esplendor — ela resplandece nas quitandas de Sevenoaks como uma vela acesa, dando longas passadas em pernas como faias, cor-de-rosa cintilante, cheia de cachos de uvas, toda enfeitada de pérolas”, diz ela no início do romance das duas.

Muito importantemente, são nesses anos que ela sente ter encontrado seu caminho literário. No meio da escrita de Mrs. Dalloway, ela anota: “Sinto, finalmente, que sou capaz de cunhar todos os meus pensamentos em palavras. (…) Agora, imagine que eu possa me tornar um dos romancistas interessantes — não digo grandes — mas interessantes? Estranhamente, apesar de toda a minha vaidade, até́ agora eu não punha muita fé nos meus romances, nem os considerava fruto de expressão própria.”

Quatro anos depois, em 1929, em meio a As ondas, ela já está angustiada, em eterna mutação: “Talvez seja melhor estar continuamente tentando encontrar novas coisas a se dizer, já que a vida segue adiante. Inventar um estilo narrativo apurado. Acho que as Mariposas (se é que o irei chamar assim) tem arestas muito afiadas. Não estou satisfeita entretanto com a estrutura”.

Nesses seis anos, vemos Virginia se metamorfoseando em muitas Virginias, mas, especialmente, alcançando um estilo próprio — uma voz só sua. “A verdade é que escrever é o prazer profundo, e ser publicada, meramente superficial.”

Os diários de Virginia Woolf – Volume III
Virginia Woolf
Trad.: Ana Carolina Mesquita
Nós
592 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho