Após vencer o PrĆŖmio Nobel de Literatura 2022, Annie Ernaux tem mais um livro publicado no Brasil. O breve romance O jovem dĆ” conta de uma mirĆade de temas e afetos ao rememorar o relacionamento que teve, aos 54 anos, com um estudante trinta anos mais novo.
Para alĆ©m da diferenƧa de idade dos amantes, estĆ£o presentes em O jovem reflexƵes sobre o desejo feminino, o relacionamento entre pessoas de classes sociais diversas, a passagem do tempo, a memória ā individual e coletiva ā, a escrita e o papel da mulher na sociedade francesa dos anos 1990.
Absorta pelo romance, Ernaux descreve: āMeu corpo nĆ£o tinha mais idade. Era necessĆ”rio o olhar pesado e reprovador de clientes ao nosso lado num restaurante para que eu me desse conta desse corpo. Olhar que, longe de me envergonhar, reforƧava minha determinação de nĆ£o esconder meu relacionamento com um homem āque poderia ser meu filhoā, enquanto qualquer sujeito de cinquenta anos podia se exibir com uma moƧa que claramente nĆ£o era sua filha sem nenhuma reprovaçãoā.
Quando reflete sobre o papel do jovem em sua vida, Ernaux se dĆ” conta de que nĆ£o Ć© tanto pelo que trouxe de novo, mas justamente pela repetição, que ele deixou sua marca: essa dimensĆ£o filosófica dos relacionamentos ā que jĆ” havia sido citada pela autora em Os anos com o nome de āsensação palimpsestoā ā Ć© destrinchada aqui com a maestria de uma escritora para quem a passagem do tempo acrescenta novas camadas Ć quilo que ela tem a dizer e Ć qualidade de sua escrita.