🔓 Crítica e literatura brasileira no exterior pautam primeiro dia de eventos no Itaú Cultural

Francisco Alvim foi homenageado no primeiro dia de eventos sobre literatura no Itaú Cultural
22/11/2012

 

Francisco Alvim, homenageado no primeiro dia de eventos sobre literatura no Itaú Cultural

:: Por Guilherme Magalhães

Discussões sobre o risco na crítica literária e a situação do ensino da literatura brasileira na Europa marcam o primeiro dia de encontros no Itaú Cultural

Numa semana dedicada à literatura, dois eventos promovidos pelo Itaú Cultural, o 5º Encontro Internacional Conexões e o 7º Encontros de Interrogação, aliam as percepções e o mapeamento da literatura brasileira no exterior ao debate acerca do risco nos mais variados âmbitos da literatura.

Ambos foram precedidos por uma homenagem ao poeta Francisco Alvim na noite de terça-feira (20). Poetas como José Miguel Wisnik, Mauricio Pereira, Alice Ruiz, João Bandeira e Antonio Cicero, além do próprio homenageado, se reuniram para a leitura de poemas de Alvim.

Abrindo os trabalhos deste 5º encontro do projeto Conexões, a percepção da literatura brasileira no exterior foi tema da mesa composta pelos professores Alva Martínez Teixeiro (Universidade de Lisboa), Ettore Finazzi-Agrò (Universidade La Sapienza de Roma) e Kathrin Sartingen (Universidade de Viena). Mediada pelo poeta e professor da USP Fernando Paixão, a conversa apresentou um panorama do ensino da literatura brasileira nos departamentos de letras das universidades européias.

A pesquisadora Kathrin Sartingen, que pertence à cátedra de Lusitanística na instituição austríaca, destacou a ainda pequena representatividade do estudo de literatura brasileira em seu departamento. “No bacharelado de Viena, poucos alunos escolhem estudar literatura dentro da cátedra de Lusitanística. Dos que escolhem literatura, o foco está na portuguesa. Apenas no fim do curso se estuda a brasileira”, afirma Kathrin.

Já na Península Ibérica, segundo Alva Martínez Teixeiro, o estudo das obras clássicas da literatura brasileira é predominante. “Uma identidade dividida entre o que já não é e o que pode vir a ser é um forte elemento na percepção da literatura brasileira contemporânea no exterior”, explica a pesquisadora.

Desfazer os mitos e estereótipos acerca do Brasil é o primeiro e mais importante papel de um professor de literatura brasileira no exterior, de acordo com Ettore Finazzi-Agrò. “A literatura é um campo de forças, não tendo muito a ver com tempo e espaço, mas representações, divergências e convergências”, afirma o professor italiano, que tem análises extensas a respeito de obras como Os sertões, de Euclides da Cunha, e Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

O risco na crítica
Com o foco no risco presente nos diversos âmbitos da vida literária, o 7º Encontros de Interrogação reuniu em sua mesa de abertura os críticos João Cezar de Castro Rocha e Lourival Holanda para responder a seguinte questão: “A crítica capitulou?”.

Holanda é categórico ao apostar numa readequação da crítica aos novos meios. Para ele, não há uma capitulação da crítica, mas sim um desconforto em relação a ela que levanta novas questões e modalidades de crítica literária. “A singularidade do ato de escrever vem da bifurcação ‘já seguro’ e ‘aventurar-se’”, defende o crítico.

Castro Rocha destaca o caráter secundário da crítica e a necessidade de a mesma aceitar esta “secundidade”. “A crise da crítica de forma alguma é privilégio do cenário brasileiro. Ao contrário, é internacional, e ainda encontramos espaços privilegiados de discussão na América Latina, diferentemente das atuais circunstâncias da Europa e dos Estados Unidos”, afirma. O professor de Literatura Comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ainda atenta para a questão primordial, segundo ele, de que de forma alguma a literatura detém o privilégio da arte de narrar, destacando as telenovelas, o cinema e inúmeros outros cenários em que a narrativa se faz presente. “O humano é narrativo”, completa.

Rascunho