Ao longo de 12 anos, de 1971 a 1983, o poeta, tradutor, jornalista e crítico literário carioca Leonardo Fróes levou para o cotidiano das pessoas, através das colunas semanais que assinava no Jornal do Brasil (Natureza) e no Jornal da Tarde (Verde), a importância de uma convivência mais harmônica com o meio ambiente.
Parte desse acervo está reunido em Natureza: A arte de plantar, que a Cepe (Selo Pernambuco) lança nesta quinta-feira (16) , às 19h, durante uma live no canal da editora no Youtube. O bate-papo contará com a participação de Leonardo Fróes e do organizador do livro, o crítico literário e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (MG) Victor da Rosa.
A obra é apresentada pelo próprio Leonardo Fróes, que aos 80 anos de idade foi uma das grandes atrações da 19ª Festa Literária de Paraty e se mantém em plena atividade. “O livro […] é uma simples introdução ao prodigioso mundo das plantas. Criá-las em vasos, dentro de casa, ou mesmo em apartamentos, pode ser um primeiro passo para aprender a respeitá-las, sentir carinho por elas e notar o grande bem que nos fazem aos nos fazer companhia”, diz o poeta.
“Quem passar por essa experiência, olhando para as plantas, não como objetos de decoração, mas sim como seres vivos de radiosa mudez e extrema complexidade, por certo estará habilitado depois a considerar toda a Natureza, em suas expressões mais grandiosas, com idêntico respeito e carinho. Mais do que nunca, a humanidade precisa muito disso, pois zelar por nossas reservas é hoje um atestado de civilização verdadeira”, destaca.
Natureza: A arte de plantar foi proposto por Victor da Rosa, inicialmente interessado em entender a trajetória e a poesia do escritor a partir de seus textos ecológicos. “Tentei reproduzir no livro a principal qualidade que a coluna teve: Fróes misturava tudo. Por ser um grande poeta, ele tem uma consciência rara do seu próprio texto, e uma postura de aventura em relação à vida, ao mesmo tempo em que se trata de um erudito. Ele possui um tipo de erudição que nem sei se existe mais, pois não é nem especializada e muito menos esnobe.”
Sessenta e sete textos foram selecionados para o livro. Quase todos com quase meio século desde a primeira publicação, mas que preservam o caráter atemporal. Bom exemplo está em “O mágico hortelão de Ipanema”, publicado em 21 de janeiro de 1972, em que Fróes revela aos leitores a paixão do escritor Rubem Braga (1913-1990) pela natureza e pelos animais.
“Em pleno coração de Ipanema, o hortelão Rubem Braga, paciente inventor de incríveis mágicas, realiza mais esta proeza de mestre — e colhe ainda, ao redor do seu gostoso apartamento forrado de quadros, livros, memórias, coisas que parecem saídas de um conto de fadas: pitangas, abricós, limões, laranjas, mangas que ele próprio plantou sobre a cidade seca.”
O livro é ainda um registro importante da guinada dada por Leonardo Fróes em sua própria vida quando, em meados de 1971, deixou para trás o Rio de Janeiro, seu caos urbano e o confortável cargo de executivo de uma grande editora para viver em Secretário, distrito de Petrópolis (RJ), com sua esposa, Regina.
Lá, em 50 mil metros quadrados, construiu sua casa, reflorestou a área então degradada e estabeleceu uma profunda e duradoura relação com o meio ambiente. Leonardo Fróes nasceu em fevereiro de 1941, em Itaperuna, interior do Rio de Janeiro. Tradutor de obras de autores como William Faulkner, George Elliot, Jonathan Swift e Goethe, estreou na poesia em 1968 com o livro Língua franca. Vencedor do Prêmio Jabuti de Poesia (1996) e do Prêmio Paulo Rónai de tradução (1998), teve recentemente, em comemoração aos seus 80 anos, a obra poética reunida em um título lançado pela Editora 34.