Considerada a obra-prima de Eudora Welty, vencedora do Pulitzer e uma das grandes escritoras americanas do século 20, a coletânea de contos As maçãs douradas, até então inédita no Brasil, chega agora ao leitor brasileiro em edição da Carambaia. — com tradução e posfácio de José Roberto O’Shea.
Morgana é uma cidadezinha no Mississippi em que todos se conhecem. Crianças e idosos convivem com adultos de diferentes posições sociais. A natureza — rio, árvores, pássaros, bosques e trilhas — se mistura com as casas e os pequenos negócios. Esse lugar fictício, com as características do sul dos Estados Unidos, é o elemento central de As maçãs douradas.
O livro reúne sete contos interligados, com personagens em comum, e cobrem um período de cerca de 40 anos. Eudora Welty (1909-2001) é dona de um estilo bem particular, em que a oralidade evolui para uma linguagem elaborada como uma tapeçaria.
O apego de Welty à paisagem e às relações marcadas por tradições familiares, além de certo isolamento, evocam sua cidade natal, Jackson, também no Mississippi. A associação apressada a outros escritores do Sul, como William Faulkner e Carson McCullers, levou a escritora a ser frequentemente classificada como representante de um filão regionalista.
Welty foi amiga e correspondente de Faulkner, mas rejeitava a filiação comum. Sua escrita original levou-a a ser a primeira escritora americana a ter já em vida sua obra incluída na coleção Library of America (Philip Roth e Saul Bellow mereceriam posteriormente a mesma distinção). Com o passar do tempo, Welty passou a ser comparada a escritores de outros continentes — como Virginia Woolf e James Joyce — e outras eras — como Homero e Ovídio.
Seus livros, entre eles As maçãs douradas, se valem em alguma medida da mitologia grega e de outros arquétipos, mesmo sendo o oposto da jornada heroica. O título do livro é tirado de um poema de W.B. Yeats e se refere a uma distinção entre as pessoas que colhem maçãs prateadas e aquelas que, num momento especial da vida, encontram uma maçã dourada. Como observa O’Shea no posfácio: “Welty é a mestra do ‘ordinário’ transmutado em ‘extraordinário’”.
Trajetória
Welty foi a mais velha de três filhos de um agente de seguros e uma professora apaixonada pela leitura. Em 1929 graduou-se em letras na University of Wisconsin. De volta à cidade natal, dedicou-se à escrita e à fotografia.
Antes de lançar seu primeiro livro, Welty já tinha publicado contos em periódicos de grande prestígio, como The New Yorker e Atlantic Monthly. A primeira coletânea em livro, A curtain of green, saiu em 1941. No ano seguinte, veio o primeiro romance, Casamento no delta. Sempre em Jackson, Welty trabalhou na rádio e em um jornal local. Em paralelo, durante os anos da Grande Depressão, ela atuou como fotógrafa num programa governamental de incentivo à integração social. Seu trabalho, centrado sobretudo em retratos de pessoas anônimas, foi posteriormente reunido em livros.
Welty ganhou quatro vezes o prêmio O. Henry, a principal distinção literária americana para o gênero conto, e recebeu do governo da França a Légion d’Honneur. Nas últimas décadas de vida, passou a ser considerada a “grande dama” da literatura americana — suas palestras bem-humoradas eram sempre eventos concorridos. Ao morrer, na casa de sua família em Jackson, onde morou a vida toda, Welty deixou publicados mais de 40 contos, cinco romances, três obras de não ficção e um livro infantojuvenil.
