A Chão Editora lança O Cancioneiro das Baldaias, de Bartolomeu Fragoso, considerado o primeiro livro de poesia profana escrito no Brasil. O manuscrito, datado do final do século 16 e inédito há mais de 400 anos, foi descoberto pela pesquisadora e professora da UERJ Sheila Hue nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa. A edição reúne sete sonetos jocosos e uma balada cômica, acompanhados de posfácio e notas da organizadora.

Os papéis de Fragoso foram apreendidos pela Inquisição portuguesa em janeiro de 1592, quando o autor — nascido em Lisboa e criado em Salvador — foi preso e processado por heresia. O pequeno volume encadernado, encontrado junto ao processo inquisitorial, revela um raro exemplo de poesia satírica e laica no ambiente colonial brasileiro.

Mestre do humor e da paródia, Fragoso transforma a tradição petrarquista com referências à vida na Bahia açucareira. Seus versos trocam as metáforas europeias pelo imaginário tropical: sua amada é “fresca mais que cana”, em vez de “mais branca que a neve”.

Após o julgamento, o poeta foi degredado da capitania da Bahia e não deixou outros registros literários. Com esta edição, Hue recupera parte da vida cultural de Salvador no século 16 — um cenário de poetas, cortesãs, músicos e leitores, entre livros proibidos e bibliotecas particulares.

A organizadora
Sheila Hue é pesquisadora e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em literatura quinhentista, dedica-se ao estudo de relatos de viagem e poesia do século 16. É autora de edições comentadas de 20 sonetos, de Luís de Camões, Carta de achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, e Ingleses no Brasil: relatos de viagem, 1526-1608, em parceria com Vivien Kogut Lessa de Sá, também publicado pela Chão Editora.