O Instituto Moreira Salles anuncia a 37ª edição da revista serrote, editada por Paulo Roberto Pires. Entre os destaques do novo número, que começa a circular na segunda quinzena de março, estão desenhos inéditos do cartunista Claudius, ensaio do escritor sul-africano J. M. Coetzee sobre censura estatal e artigo da historiadora Wlamyra Albuquerque a respeito de racismo estrutural.
Preso pelo Dops em maio de 1964, durante o primeiro mês de ditadura no Brasil, Claudius traz a público desenhos que fez no cárcere — no qual ficou por 17 dias. “Lembro do meu medo. Medo sem nome, medo do desconhecido, medo do que minha imaginação projetava”, conta sobre a experiência.
No texto a respeito da censura estatal, publicado originalmente como introdução à coletânea inédita no Brasil Giving offense — Essays on censorship (1996), Coetzee descreve o sentimento de se produzir literatura em um ambiente hostil, tendo como base seu país de origem. A sensação, explica, é “como ter uma relação muito próxima com alguém que não se ama, com quem você não quer intimidades, mas que impõe sua presença à força”.
Os empecilhos criados por certas formas de governar também estão presentes no artigo da historiadora Wlamyra Albuquerque. A partir da invasão do Capitólio, ocorrida nos Estados Unidos em janeiro de 2021, e da ausência de personalidades negras na lista de homenageados da Fundação Palmares no Brasil, a professora da Universidade Federal da Bahia discute o racismo enraizado nas sociedades.