Há 50 anos o grupo Secos & Molhados lançou seu álbum de estreia, de 1973, e se tornou um dos símbolos da rebeldia contra a ditadura militar. Com cerca de um milhão de cópias vendidas no primeiro ano, o disco representou um marco na MPB, com ampla influência na indústria fonográfica.
Celebrando a data, uma nova versão da biografia do grupo, escrita por Miguel de Almeida, chega agora às livrarias. O autor ampliou sua pesquisa com novas entrevistas, e a edição de Primavera nos dentes traz capítulos inéditos, informações atualizadas e outras imagens, além de texto de orelha do escritor Silviano Santiago. Miguel de Almeida também é autor da série homônima, de quatro episódios, que está prevista para ir ao ar em outubro de 2023, no Canal Brasil.
O livro acompanha a vida de cada um dos membros do Secos & Molhados desde antes da fama; o caminho que uniu João Ricardo, Gérson Conrad e Ney Matogrosso; o estouro de suas músicas; a performance única que inauguravam em período de repressão; os conflitos que levaram ao fim do grupo. Ao contar essa história, Miguel de Almeida traça também a história do movimento cultural brasileiro durante os duros anos da ditadura militar.
Ney fugiu de casa aos 17 anos, brigado com o pai — um militar da Aeronáutica que não aceitava ter um artista na família. Muitas vezes não tinha o que comer, morava em casas de amigos e tinha uma vida simples, buscando seguir sua carreira de ator, até que conheceu João Ricardo, um jornalista português, e Gérson, um jovem estudante de Arquitetura, que procuravam um cantor para sua banda de rock.
O primeiro álbum do Secos & Molhados foi lançado em 1973. Em um ano, cerca de um milhão de LPs foram vendidos. Em fevereiro de 1974, a banda protagonizou outro recorde: uma apresentação para 20 mil pessoas no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Nunca antes o show de um único nome brasileiro havia atingido tamanho público — sendo que mais 20 mil pessoas ficaram do lado de fora, sem conseguir comprar ingresso.
“Corpos alegremente inconvenientes — eis a senha secreta. Miguel prova que, a partir dos anos 1970, a inconveniência do artista em espetáculo público — ou sua imagem e palavra no jornal ou na televisão — é uma eficiente arma política revolucionária, distribuída à sanha imitativa dos colegas de trabalho, ou à admirativa da juventude de fãs”, escreve o romancista Silviano Santiago no texto de orelha da nova edição de Primavera nos dentes.