O último processo de Kafka, em pré-venda pela Arquipélago, mostra como o escritor tcheco teve um destino tão kafkiano quanto seus próprios escritos. A obra, assinada pelo jornalista Benjmin Balint, investiga as batalhas judiciais travadas entre instituições literárias de Alemanha e Israel e a octogenária Eva Hoffe pelo legado literário do autor de A metamorfose (1915) e O castelo (1926), entre outros clássicos.
A base da história é conhecida do público leitor: antes de morrer precocemente, aos 40 anos, Kafka pediu ao amigo e editor Max Brod que queimasse todos seus textos. Brod não atendeu ao pedido do moribundo e, muito pelo contrário, transformou-o em um dos nomes mais importantes da literatura mundial.
Se a saga soa inspiradora, o que há por trás não é exatamente o melhor dos mundos. Sem nada definido segundo a palavra da lei, a Biblioteca Nacional de Israel, o Arquivo Alemão de Literatura de Marbach e a octogenária Eva Hoffe, que estava em posse do espólio deixado por Brod, entraram numa disputa para ver quem tinha o direito ao legado de Kafka.
Para Israel, Kafka era judeu e, portanto, seus manuscritos deviam pertencer ao país. Segundo a Alemanha, o autor escreveu no idioma oficial da nação. E, enfim, para a senhora que se viu embrenhada na disputa entre países, os documentos eram herança de família — deixada por sua mãe, Esther, que fora secretária de Brod e ficou responsável pelo “tesouro” após a morte de seu chefe, ocorrida em 1968.
De toda querela, a pergunta que se insinua é: a quem pertence Kafka? Ao longo dos capítulos, parece ser essa a pergunta que move Balint, e o jornalista não se atém às respostas fáceis para remontar todo esse intrincado processo kafkiano.