Nascido em Belém, em 1921, o poeta Carlos de Oliveira foi levado pelos pais para Portugal em 1923, e nunca mais voltou a sua cidade de origem. Considerado um dos nomes mais fortes do neorrealismo português, é totalmente desconhecido no Brasil.
Agora, a editora Oficina Raquel disponibiliza Trabalho poético, primeira antologia poética de Carlos de Oliveira publicada no Brasil. Oliveira publicou cinco romances, dez livros de poesia e um conjunto de textos de caráter híbrido em que discute literatura, sua própria escrita, outros escritores, questões sociais e políticas, a formação de seu imaginário artístico e sua obsessão pela reescrita.
Trabalho poético tem organização de Ida Alves e conta com estudo introdutório do professor de literatura portuguesa e poeta Leonardo Gandolfi.
A memória da infância, tão presente na obra de Oliveira, fala de seu pai, médico em um vilarejo português muito pobre, chamado Nossa Senhora das Febres (na região da Gândara, perto de Coimbra) nos anos 20, 30 e 40 do século passado, num Portugal rural e salazarista. Carlos de Oliveira testemunhou desde cedo a pobreza dos camponeses, a mortalidade infantil, a emigração constante, numa paisagem de casas de adobe e terrenos arenosos precários.
Além da menção à realidade desoladora que o tatuou (como ele mesmo dizia), a escrita de Oliveira apresenta um imaginário da matéria poética, tratando da força da palavra, do lugar do poeta, da criação não original (intertextualidade, imitação, reescrita), da construção do poema como experiência de tempo, rastros de memória, estratos geológicos, formações rochosas, como o leitor poderá admirar no conjunto de poemas que formam a série “Estalactite”, do livro Micropaisagem (1968), presente na antologia brasileira.
Carlos de Oliveira nasceu em 1921 no Brasil, em Belém do Pará, filho de pai português e mãe brasileira. Estudou na Universidade de Coimbra (Ciências histórico-filosóficas, Faculdade de Letras) e mudou-se em 1948 para Lisboa, onde veio a falecer em 1981.
Um nome forte, no século XX, da poesia e da narrativa portuguesa moderna e contemporânea, a ele se devem gestos impactantes de escrita que confrontaram, no ato mesmo de sua elaboração, a concepção do que seja o “trabalho oficinal” em poesia e o compromisso com a literatura.