🔓 Annie Ernaux explora desejo e doença em “O uso da foto”

Em parceria com Marc Marie, Annie Ernaux transforma memórias e fotografias em narrativa sobre desejo, doença e a vitalidade do corpo
Annie Ernaux, autora de “O uso da foto”
14/09/2025

A vencedora do Nobel de Literatura de 2022, Annie Ernaux, lança no Brasil O uso da foto, escrito em parceria com o fotógrafo e jornalista Marc Marie. Publicada originalmente em 2005, a obra nasce de uma experiência íntima da autora, em 2003, quando, prestes a iniciar um tratamento contra o câncer de mama, Ernaux inicia um relacionamento com Marie.

O casal passa a fotografar roupas largadas pela casa antes do sexo. A partir de 14 imagens coloridas, registradas ao longo daquele ano, cada um escreve textos que dialogam sobre memória, desejo, doença, erotismo, fotografia e política — da Guerra do Iraque recém-deflagrada às lembranças da infância belga de Marie.

Escrita a partir da ausência
Diferente de outros livros em que Ernaux parte de retratos, em O uso da foto o ponto de partida é a ausência dos corpos. Essa escolha, ainda que atravesse a experiência da doença e a ameaça da morte, reforça a vitalidade do erotismo e a transformação do corpo. Para Ernaux, fotografar os vestígios de amor era uma forma de provar que ainda estava viva — um gesto radical que se conecta ao projeto literário que culminaria em Os anos, considerada sua obra-prima.

Uma fase decisiva
Nesse diário do abandono ao prazer, marcado por intenção artística e reflexões originais sobre a fotografia, o leitor encontra novas facetas da escrita de Ernaux, em que a experiência pessoal é transfigurada em literatura. “Não espero a vida me trazer temas, e sim organizações desconhecidas de escrita”, afirma a autora.

Recepção crítica
Críticos internacionais ressaltam a força disruptiva do livro. Para Rhian Sasseen (The Atlantic), trata-se de um gesto radical ao tratar o corpo doente como capaz de prazer e vida. Leslie Camhi (The New York Times) define a obra como “um testamento do poder das imagens contra a doença, a perda e a morte”.

Sobre os autores
Annie Ernaux nasceu em 1940, em Lillebonne, França. Professora por mais de três décadas, construiu uma obra marcada pela fusão de autobiografia e história coletiva. Em 2022, recebeu o Nobel de Literatura.

Marc Marie (1962-2022) foi fotógrafo e jornalista francês, formado em literatura moderna, e dividiu sua trajetória entre o jornalismo e a escrita.

O uso da foto
Annie Ernaux e Marc Marie
Trad.: Mariana Delfini
Fósforo
144 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho