(03/10/2020)
Em 2020, cinco grandes autores, brasileiros e estrangeiros, têm seu centenário de nascimento lembrado. Criadores díspares como Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Charles Bukowski, e outros dois que dialogaram com suas obras, o americano Ray Bradbury e o russo Isaac Asimov. Em comum, o fato de todos terem feito grande literatura e marcado seus nomes entre os maiores escritores do século 20. O Rascunho seleciona um grande livro de cada escritor.
A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector
Romance mais importante da escritora brasileira nascida na Ucrânia, A paixão segundo G. H. (1963) colocou de forma definitiva o nome de Clarice Lispector entre os principais autores brasileiros da segunda metade do século 20. O uso do fluxo de consciência, uma marca da autora, é o recurso que rege todo o livro. G. H., a protagonista-narradora, despede a empregada doméstica e decide fazer uma limpeza geral no quarto de serviço, que ela supõe imundo e repleto de inutilidades. Após recuperar-se da frustração de ter encontrado um quarto limpo e arrumado, G. H. depara-se com uma barata na porta do armário. Depois do susto, ela esmaga o inseto e decide provar seu interior branco, processando-se, então, uma revelação. Após a empolgante estreia com Perto do coração selvagem (1943), Clarice passou para o primeiro time da literatura nacional com G. H..
Eu, robô, de Isaac Asimov
O russo Isaac Asimov foi um escritor que inventou suas próprias palavras. O termo “robótica” é atribuído a ele. Seus contos também estão entre os primeiros escritos a tratar de robôs no sentido moderno — máquinas humanoides com cérebro de computador. O livro Eu, robô é um marco da carreira de Asimov e da própria literatura de ficção científica. Publicado em 1950, consiste em um conjunto de nove contos que relatam a evolução dos autômatos através do tempo. É neste livro que são apresentadas as célebres Três Leis da Robótica: os princípios que regem o comportamento dos robôs e que mudaram definitivamente a percepção que se tem sobre eles na própria ciência. O livro serviu como base para o roteiro do filme homônimo, no qual Will Smith interpreta o protagonista, o detetive Del Spooner.
Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Apesar de a maior parte de sua produção ter vindo em forma de contos, foi com o romance Fahrenheit 451 que Ray Bradbury se tornou mundialmente conhecido. É verdade que o livro nasceu de um conto chamado O bombeiro e só depois foi transformado na história que conhecemos hoje. Planejado como um romance antiutópico, o livro narra a trajetória de Guy Montag, um bombeiro às avessas, cuja função é atear fogo nos livros. Em um mundo onde as pessoas vivem em função das telas e a literatura está ameaçada de extinção, os livros são objetos proibidos, e seus portadores são considerados criminosos. A adaptação para o cinema, feita por François Truffaut, certamente também contribuiu para a fama do livro, que rotineiramente é comparado a 1984, de George Orwell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
Cartas na rua, de Charles Bukowski
Contista e poeta “reconhecido” no underground literário americano desde os anos 1960, no começo da década seguinte Charles Bukowski se aventurou na narrativa longa com Cartas na rua (1971). Era a tentativa do autor chegar a um público maior com sua literatura. A obra também dá vida pela primeira vez ao alter ego Henry Chinaski, que a partir dali apareceria em uma série de histórias de Bukowski. A narrativa é baseada na experiência do autor como funcionário dos Correios dos EUA e o livro se mostra como uma pequena “odisseia” de Chinaski pelo mundo do trabalho. Além da temática “outsider”, o romance chama a atenção pela linguagem econômica, com frases e capítulos curtos, o que se tornaria uma marca da produção de Bukowski.
A educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto
O poeta pernambucano costuma ser colocado ao lado de Carlos Drummond de Andrade como um dos maiores monumentos da poesia brasileira (e da língua portuguesa) de todos os tempos. Isso se deve à sequência de livros clássicos que publicou, em especial Morte e vida Severina (1965) e Museu de tudo (1975). A educação pela pedra (1966), no entanto, é considerado por muitos críticos o ponto mais alto da produção do poeta. Aqui o autor alcança um nível de precisão e maestria poucas vezes visto na literatura, construindo sua poesia de maneira admirável. Conhecido pela “crueza” de seus versos, os poemas deste livro são capazes de emocionar com construções de grande força e beleza. O livro foi vencedor de diversos prêmios, entre eles o Jabuti, o da União de Escritores de São Paulo e o do Instituto Nacional do Livro.