🔓 Yara Nakahanda Monteiro

Ensaio fotográfico de Yara Nakahanda Monteiro
Foto: Ozias Filho
01/02/2022

Estava escrito no mapa, em cada ponto marcado com um x, vincado frente e verso com letras garrafais: Sou de onde estou. A escritora angolana Yara Nakahanda Monteiro vê em cada mapa, destino que se lhe apresenta, uma possibilidade para descobrir o outro, descobrir-se a si própria, e, com determinação, ser feliz.

Esta nômade, com residência fixa em Melides, no Alentejo (Portugal), tem como lugar de partida a província do Huambo, mas são vários os portos por onde atracou as suas vivências, e neles depositou raízes, sorvendo a boa e a má água de cada oásis, já que cada paraíso tem também o seu submundo. O reflexo destas paragens obrigatórias está latente no seu corpo vertido em livros.

Mapas para partir. Mapas para chegar. Mapas para conhecer, e mapas para se perder.

Na escrita de Yara, todos os caminhos nos levam aos nós intrincados que são a vida. Este enorme puzzle que tentamos encaixar, da melhor forma, as nossas partes soltas.

E no início era o silêncio, e do silêncio a voz da terra primeira, e da terra, os cheiros da infância, e dela a constatação de que não somos iguais, e da diferença, a resiliência, para crescer sabendo que aquilo que não nos mata nos faz mais forte, e desta força, a mulher que vai ganhando mundos com a sua escrita, e das letras, o regresso às histórias pessoais de muitos como ela, à terra da memória e da mobília que carregamos às costas, para qualquer ponto no mapa que nos acolha.

A literatura como mapa para se encontrar. Mapas para renascer, quer seja em Angola, na periferia de Lisboa, Rio de Janeiro, na floresta amazônica, Copenhague, Atenas, ou em Melides. No seu mapa não está escrito qual o destino, mas sim quando ele virá.

A literatura como mapas de guerra contra o preconceito. “Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã”, leio Drummond e vejo Yara com suas histórias de vida. Mapas para vencer. Mapas para descolonizar colonizadores. Mapas para descolonizar colonizados. A literatura como lugar de encontros. Mapas sem fronteiras.

 

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
Yara Nakahanda Monteiro
Nasceu em Angola, na província do Huambo, em 1979, e cresceu na periferia de Lisboa. O seu primeiro romance, Essa dama Bate Bué! (2018), recém-publicado no Brasil pela Todavia, aborda questões de identidade, pós-memória, gênero, colonialismo e diáspora. Já foi publicado em inglês, mandarim e italiano. Memórias aparições arritmias (2021) é o seu primeiro livro de poesia; um registro íntimo acerca da condição feminina, da natureza, da identidade, das memórias e dos sonhos. Licenciou-se em Gestão de Recursos Humanos, e trabalhou na área durante quinze anos. Já viveu em Luanda, Londres, Copenhague, Rio de Janeiro e Atenas.
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvioPáginas despidas, O relógio avariado de DeusInsularesOs cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho